07 novembro 2007

La soledad era esto

Devorei o livro ao lado. Talvez por algum efeito louco de identificação. Creio que tenho a mania de buscar me identificar com tudo o que vejo. Um ensimesmismo egoísta talvez, ou a busca de algum sentido.Creio que sou um pouco Elena Rincón, aos 44 anos olhando a sua realidade com olhos frios e abandonando-a em busca de algo que não sabe bem quem é. Vivo uma realidade estranha, que venho percebendo mais nestes últimos meses. Percebi que em anos de enclausuramento em volta de um mesmo tema, com tanto tempo dedicado fui desconhecendo-me. Fui despossuindo-me, despossuindo meu corpo, meus gestos, minhas palavras, meus gostos... Sei, por exemplo, que amo música, mas há anos não conhecia outra música que a que sempre escutei. Sei que gosto de gente, mas há anos vinha tendo alguma preguiça de essa categoria. Desaprendi o que fazer com o tempo e ainda hoje me sinto perdida ao deparar-me com uma tarde livre... Um afastamento estranho de uma realidade que deveria viver se produziu, creio que especialmente nos 5 ou 6 últimos anos. Não digo que não vivi esse tempo-espaço, só digo que isso me foi tirando-me de mim mesma, de minha vida, uma vida... uma vida que não tento recuperar agora, mas tento reduzir essa distancia com as coisas quentes do mundo. Tento possuir-me outra vez, a reversão de um processo de metamorfose kafkiano, como Elena Rincón.


La soledad era esto escrito por Juan José Millás, provavelmente não traduzido ao português.

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