26 dezembro 2006

Para sobreviver ao frio (especialmente no Natal)


Eu não sou muito dada às listas ou às famosas "7 dicas para o seu ano novo", "10 coisas que não se deve fazer no primeiro encontro", "15 maneiras de enlouquecer um homem na cama" mas hoje resolvi fazer minha lista, que acho menos divertida mas definitivamente útil. E não não é a lista de promessas pro Ano Novo é o "guia útil de como sobreviver ao frio, especialmente no Natal". Então vamos lá:

1 - Mude o seus conceitos. Einstein tinha razão e tudo é relativo. Se você é brasileiro como eu entenda, Natal pode ser frio e poderá ser passado longe da praia (bem como o ano novo). A relatividade? Aquilo que você conhece como frio não é frio é ameno. Aquilo que você conhece como calor, não é calor, é exagero. Aquilo que você conhece como vento é brisa. Você só vai entender o novo conceito de frio quando, como eu, começar a achar que um dia que fez 8 graus no horário mais quente foi um dia "más calientito" no inverno.

2 - Seja cara de pau. Entenda, morando há um mês e meio em um lugar estranho com todas as poucas pessoas que conheceu tendo ido viajar, institua a cara de pau e vá em frente. Ligue para o primo do amigo do vizinho, chame de família, organize a ceia de Natal na casa de um deles, diga Feliz Natal como se fosse a um irmão e seja feliz. Esse conselho também é útil para futuras viagens e praqueles dias em que você quer sair mas nenhum amigo amigo quer. Nessas acabei fazendo uma amiga argentina (amigo argentino não é contraditório em si mesmo? rs)

3 - Invente uma nova tradição ou se degole. Claro que Natal é Natal, ceia da mãe é ceia da mãe e família é família. Mas se conforme, isso não vai acontecer. Então invente (ou ganhe) sua nova tradição. Eu tenho 2 novas: agora sempre faço os doces de sobremesa do Natal e aderi a uma tradição argentina de apagar velas a meia noite fazendo um pedido. Achei lindo e me senti em casa.

4 - Seja criativo. Nem tudo foi feito só para um fim. Assim, quando na rua faz -3º e dentro da sua casa deve estar a 0º a sua cama se torna o melhor lugar do mundo (já não era antes?), mas ela está gelada. Agarre o secador de cabelo ou o ferro de passar e esquente sua própria cama, fica mais fácil deixar que os cobertores tenham sua função depois disso.

5 - Entenda, você nunca mais vai achar a tecnologia um negócio frio. O skype e a webcam serão seus novos amigos para esquentar a alma e você vai, como no bigbrother, se emocionar e gritar "aaaaaaaaaaaaaaaa minha mãe" quando todo mundo estiver na frente da camera te mandando beijos de Feliz Natal.

6 - Amigo é foda. Então você vai passar muito do seu tempo pensando neles e torcendo por e-mails telefonemas, recadinhos no orkut, passadelas no blog (reiterando o ponto sobre a tecnologia). Com sorte você fala com alguns deles no msn no dia de natal, com muita sorte alguns te ligam e fazem o seu dia! Mas sempre vão estar por perto pelo menos na memória. O que faz o próximo tópico.

7 - Memória seu melhor amigo e pior inimigo. O negócio é lembrar feliz dos momentos por aí e não melancólica (que pra mim que sou uma boluda é meio difícil). Sem muito mais a dizer sobre isso.

8 - Exercício físico é desnecessário no inverno. Principalmente se no seu país novo o metrô é grande e cheio de escadas. Eu atualmente carrego meu peso em roupas sobre o meu corpo, ando umas 30 quadras diárias pra ir de um lugar a outro e vivo tremendo. Essa coisa de acordar cedo no inverno pra correr é uma falácia, desnecessária ainda.

9 - Eu estou começando a entender porque franceses não tomam banho. Porque tirar a roupa é um ato de coragem e sentir aquele friozinho que dá depois banho não é legal no inverno. Você vai perguntar, mas sexo eles fazem né? Sem muitos comentários, você deve estar com problemas pra comparar sexo a banho. Observação importante: eu não aderi ao hábito de não tomar banho, só disse que começo a entender os porquês.

10 - In vino veritas. Fique feliz, o frio do inverno e o preço da coca-cola na Espanha acabaram de te dar o melhor motivo do mundo pra tomar vinho em todas as refeições. Aproveite! Por outro lado, essa história de sair pra tomar uma breja virou lenda, você sai pra um café, pra um chocolate quente ou pra um vinho, breja gelada no inverno é quase suicídio.

11 - Devem ter mais um zilhão de dicas, mas esta é importante. Lembre-se que quem resolveu estar longe foi você então o frio é problema seu. Se eduque pra achar saudades uma coisa quente como você se educa pra achar 8º um dia quente. Os amigos que você faz na cara de pau aos poucos se tornam amigos de fato. Você conhece coisas em você que estavam muito bem esconidas, porque você nunca tinha visto antes. Você redescobre alguns sentidos de solidariedade. Solidifica seus sentimentos e relações com quem fica. Se sente amado por inércia e aos poucos o inverno vai passando.

Sim eu acordei de bom humor. Sim esse é meu jeito de desejar Felizes Festas a todos. Sim esse texto acaba agora!

*Imagem: foto do parque do retiro no dia 24/12/06

18 dezembro 2006

Os meus não dias (ou texto da não inspiração)

Levantei. Há tempos não levantava desse jeito. Nesses dias sou detalhista. Percebo que levanto todos os dias colocando o mesmo pé pra fora dos lençóis. Estou com o mesmo não pijama, o mesmo moleton velho e desajeitado desfigurando meu corpo. Olho no espelho e vejo os mesmos olhos verdes baixo a uma sombrancelha desarranjada e bochechas vermelhas pelo contato com o travesseiro. Os fios de cabelo parecem estar fora do lugar exatamente como ontem de manhã, um deles sempre está emaranhado nas tais sombrancelhas, atrapalhando minha visão e a ponta irritantemente encostando na ponta de meu nariz alérgico. Assim mesmo, igual.
Nesses dias o dia é longo e a vida curta. Saio pra rua com a certeza de que qualquer tentativa de qualquer atividade será inválida e inútil. E é. Não consigo fazer nem as coisas mais banais e no meio da devolução da compra do supermercado que já deu errado tenho crises de desespero pelo número de pessoas iguais em minha volta e volto correndo pra casa deixando o carrinho e as compras no meio do supermercado. Me parece óbvio que volto pelo mesmo caminho da mesma calçada de mesmas lojas.
Minha cama está igual e me deito com vontade de dormir e acordar de novo pra ver se dessa vez o mundo mudou. Esperança tola e vã, vocês bem sabem. Acordo com preguiça. Preguiça do mundo. Preguiça das gentes do mundo. Acordo com preguiça de ser. Que é o pior tipo de preguiça porque contra a existência só há um remédio, que custa muito para tomar por um dia. Enfim acordo com preguiça de ser . E como não ser é impossível (porque qualquer negativa depende de sua afirmativa pra existir) tento ficar em clausura, me lembrando que em clausura eu existo só pra mim e não sou pra muita gente.
Durmo e acordo. Parece que hoje é domingo. E o sentimento que costuma se esvair na manhã seguinte não foi. Então hoje ainda parece sábado. E sábado foi um não dia de alguém que não foi. Resolvo continuar não sendo em meu quarto. E aqui fico, deixando de existir pro mundo e buscando uma única pílula vermelha que seja de não realidade. Porque nesses dias me lembro que o mundo não é mais surpreendente, que qualquer coisa passa por mim como passaram as outras e que encher os olhos não é encher a alma. Não adianta sair de casa porque a melancolia dos não dias transforma tudo em não lugares, não pessoas, não sensações, não sentimentos. Esforço a memória e me lembro que o mundo só me encanta quando o vejo sem os óculos das gentes. Tento tirar os meus, mas em dias de preguiça do mundo, não há lente que saia de perto dos meus olhos. E vejo o mundo como as gentes e pronto.Ou as não gentes, ou o não mundo...
Então me deito de novo, na certeza dos otimistas tolos que amanhã acordo sem óculos e o mundo acorda com graça. Acordo sem preguiça de você e quem sabe até sem preguiça de mim.

15 dezembro 2006

Sobre o Blog

Estava mantendo dois blogs... esse para refexões do dia a dia e outro com textos jogados de qualquer coisa que me viesse na cabeça. Desisti e resolvi fazer tudo nesse blog. Então não estranhem se surgirem uns textos que não dá pra entender bem de onde vêm ou pra onde vão, normalmente eu també não sei.

Alívio

Sinto falta de suspiros.
Não quero suspiros românticos de adolescentes sonhadores.
Quero um suspiro tropego. Tremulo.

Quero um suspiro que doa pra sair.
Que esvazie o pulmão até que se junte as paredes, comprima os alvéolos
e o ar não possa mais passar nem pra entrar nem pra sair.

Um suspiro que me pressione o coração
até que átrios e ventrículos se confundam entre si
e enganem-se as batidas.

Que me faça sentir murcha, vazia, enrugada.
Quero um suspiro que me tire de mim de tal modo
que eu sinta que nada tenho a dar a mundo.

E a pressão desse vazio
esmigalhe meus ossos até que virem
cinzas.

E meus olhos saltem
das maçãs murchas do rosto
secas

E faça engolir a língua,
implodir os dentes e
calar a fala.

Os ossos da coluna
espremam a medula
imóvel.

Que me
sucumba.

Em pó.

12 dezembro 2006

De casa nova.


Tenho uns muitos assuntos na cabeça sobre os quais quero escrever. Isso é raro, normalmente esse pedaço em branco me dá pânicos de silêncio e eu fico alguns bons momentos iniciando e reiniciando frases até achar um assunto que me desafogue. Acredite, o pânico da falta de palavras é assustador pra quem fala demais. Hoje não, começo e recomeço frases por excesso de assuntos e nenhuma habilidade de escolher um. O clichê "não sei bem por onde começar". Que aliás são hoje minha tradução, tanto o clichê quanto as aspas. Me sinto hoje a repetição de mim mesma.
Finalmente tenho casa. De novo. Casa sim porque não posso me chamar de lar. Nem bem de casa. Tenho um quarto em que minhas coisas estão jogadas de um jeito que não sei bem qual é. Apesar do meu grande esforço de organizar peça por peça, meus lugares não fazem sentido. A sensação é do começo de uma desordem organizada que não sei bem em que vai dar. E aí me perco no meu próprio quarto, procurando cada peça. Estranho se perder em 6 metros quadrados de 1,70m de altura. Provavelmente as peças estão mesmo fora de lugar.
Sensações de desesperos momentaneos. Esse quarto não tem espelho. Na tentativa de reorganizar essa desordem e a sensação de não achar a primeira peça de um quebra cabeças. Um quebra cabeças que não tem imagem de referência, nem peças similares, nem dá pra dividir por cor. Um quebra cabeças desforme e abstrato. Meu quarto está assim. Um quebra cabeças desforme e eu ainda não consegui me montar.
Esse quarto não tem espelho.
Ainda assim é um quarto e sou meu. Recomeçando outra frase, mudando uma peça qualquer de lugar, sabendo que é o lugar errado e tendo a ilusão de que é melhor ser um lugar errado pra peças velhas que não ser lugar nenhum. Ainda acho que uma hora eu perco algumas peças, reponho outras, compro mobília nova, brinco de decoração fecho os olhos e me sinto lar.

04 dezembro 2006

Daquilo que se propaga no vácuo.


Não tenho muito outro assunto que não as saudades. Eu não sou viciada em melancolia. Tampouco sou dessas pessoas adictas do choro diário, da tristeza pra encher a alma. Não tenho a sensibilidade dos poetas que vivem dos sentimentos afogados. Não preciso suprir nenhum vazio com sentimentos quaisquer. Mas caminha comigo um vácuo no peito que engole o coração, esvazia o pulmão e sobe até as fossas nazais. Um vácuo tão grande e intenso que faz o ar não entrar, expulsa as lágrimas dos olhos e o sangue das maçãs do rosto. E fico assim, atônita, imóvel e pálida.
Estou imune aos sons da cidade, às músicas das noites, aos sorrisos estranhos e à simpatia gratuita e alheia. Não percebo os sentidos de qualquer conversa jogada fora com um ilustre desconhecido a quem chamamos de amigo exatamente pela falta deles. Esses sons aparentemente não reverberam em meu vácuo.
Meu vácuo se alimenta de memórias. Lembranças daquelas conversas que se tem com os olhos, sem necessidade de nenhuma palavra. Lembrança da sensação de estar seguro só pela presença de um outro. Da maneira com que um abraço pode apaziguar uma alma inteira de aflições. Da forma como soa em minha cabeça um apelido qualquer desses que só existem entre nós dois, quem quer que seja o segundo. De poder falar sem nexo e fazer sentido. Da certeza de que antes de pensar em cair já haveriam doze braços diferentes esperando pra me segurar. De admirar por horas o nada e na troca de três palavras fazer o nada virar tudo. Das intermináveis discussões que ninguém se lembra no dia seguinte. Das voltas em Original embriaguez. Dos sonhos partilhados, realizados ou não. Das nossas diferenças e das nossas igualdades. Da nossa maneira similar e distinta de ver o mundo. Das risadas. O som diferente de cada uma das suas risadas. Os motivos infames de todas elas.
Os ruídos dessas memórias são a única coisa que reverberam nesse vácuo. Incrível a fonte de minha tristeza ser a fonte de minha felicidade. Paradoxo. Como somos nós. Porque meu vácuo nasce das saudades que sinto dos irmãos que escolhi com a alma. E se enche e deixa de ser vácuo em cada pensamento que me leva pro seu lado. E o mundo todo só faz sentido se puder carregar comigo na mochila a certeza de que posso, mesmo de longe, dividi-lo com vocês.


"- Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela á agora única no mundo.
...
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa..."

01 dezembro 2006

De mau gosto

Fiquem longe dos bons costumes
Ofendam o bom gosto
Denigram a boa imagem
Afastem o bom senso
Subtraiam os bons modos
Emancipem-se.