15 dezembro 2006

Alívio

Sinto falta de suspiros.
Não quero suspiros românticos de adolescentes sonhadores.
Quero um suspiro tropego. Tremulo.

Quero um suspiro que doa pra sair.
Que esvazie o pulmão até que se junte as paredes, comprima os alvéolos
e o ar não possa mais passar nem pra entrar nem pra sair.

Um suspiro que me pressione o coração
até que átrios e ventrículos se confundam entre si
e enganem-se as batidas.

Que me faça sentir murcha, vazia, enrugada.
Quero um suspiro que me tire de mim de tal modo
que eu sinta que nada tenho a dar a mundo.

E a pressão desse vazio
esmigalhe meus ossos até que virem
cinzas.

E meus olhos saltem
das maçãs murchas do rosto
secas

E faça engolir a língua,
implodir os dentes e
calar a fala.

Os ossos da coluna
espremam a medula
imóvel.

Que me
sucumba.

Em pó.

Um comentário:

Rodrigo Langeani disse...

Vixi! Eita!! Adorei o texto.
Grande beijo