16 janeiro 2007

Desistência do mundo

O mundo tem me machucado. Tenho tido muito tempo para prestar atenção nas coisas do mundo, ou nas coisas dos homens. Sim porque o mundo não é nada que não coisa dos homens. Os homens têm me machucado. Alguns dirão que é essa sobra de tempo, outros demagogia, outros excesso de sensibilidade e falta de senso prático. Não me importo muito com as suposições alheias mas tenho buscado porquês para tal atenção e acho que é toda a mudança, que tem causado, com minha permissão, tranformações ainda maiores em mim.
Vejo de volta valores que sempre tive, mas que foram suprimidos pela vida de não tempo, pragmática e, de certa forma, alienante a que me acostumei a ter. Não culpo a vida, eu deixei. E é por isso que hoje deixo que as mudanças ocorram. É um dos sentidos e motivos de estar aqui. Os valores não sumiram, eu só fui vivendo-os de forma cada vez menor, tão menor que em algum momento me perdi.
Agora estão aqui e fazem com que o que vejo me doa. De verdade, e fundo, e forte. E de uma maneira tal que me provocam a reagir e eu em minha mania de segurança me vejo analisando e reanalisando possibilidades sobre o que fazer. A mais fácil não tenho dúvida de qual seja. Desisto do mundo e me volto a mim. Está fácil comprovar todos os porquês de a humanidade não valer a pena nem meia gota de suor de um esforço qualquer. E porque, afinal, tentar ajudar aquilo que te machuca? Aí me lembro das excessões e daqueles que mais sofrem as consequências do mundo que as produzem. E lembro que é por esses que o mundo vale a pena.
Depois me pergunto se o erro não é morfológico, e eu só tenho que mudar de palavras. Não tenho que ajudar o mundo, tenho que transformá-lo.

Está claro, desisto do mundo como ele é. Mas não desisto da idéia de que desistir das excessões é tão injusto quanto as injustiças que me machucam.

A pergunta deixa então de ser o que fazer e passa a ser como fazer.
A priori em toda e qualquer ação cotidiana, em toda e qualquer ação que seja ação de paz. A preocupação de ser instrumento de paz. O que requer atenção, concentração e esforço contínuo. Tem sido tema das minhas meditações e tenho tido bom intuito, sabendo da minha grande chance de fracassos ao meio do caminho. Não porque me julgue só incompetente nisso, e sou, mas porque fracassos são da natureza humana. A reação de raiva, a primeira que te passa, o ódio, o não pensar, são todas da natureza humana. A questão é então o treinamento e prática constante e a perseverança, após a reflexão sobre o fracasso.
Ainda assim, creio que seja possível transformar meu trabalho diário mantenedor em ação de transformação ou de resistencia. E aí me pergunto: estou aqui estudando, tranquila, desfrutando dos gozos de alguns anos de muito trabalho. Será que eu, que tenho todas as “condições favoráveis” deveria estar aqui, longe, estudando? Será que eu não deveria estar de pé em algum lugar fazendo alguma coisa contra aquilo que me dói? Será que eu não deveria desinstitucionalizar esse desejo? Aí penso no meu medo de instablidade e volto a crer que talvez essa grande mudança deva ser muito bem planejada. Ou não.
Por enquanto busco diferentes insituições às quais possa me agrupar e leio e estudo de tudo o que possa me aprimorar para tal ação. Acho muito pouco. E ainda estou em conflito com as questões práticas, ganhar o suficiente para comer e pagar o aluguel do apartamento. Quem tiver idéias, estão bem vindas.

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