Um dia desses fui conhecer El Rastro. El Rastro é uma feira, ou um mercado de pulgas, ou uma 25 de março charmosa, ou um camelodromo com algum encantamento europeu, que fica no centro de Madrid. É lindo, cheio, aconchegante, curioso. Divertido. Encantador o tal mercado. Tem de tudo, de utensilios de eletricidade (adaptadores de tomadas, extensões), a pregadores, a roupas e antiguidades. Tem artistas de rua de todas as nacionalidades cantando e dançando pelas ruas, tem turistas de qualquer lugar do mundo encantado com qualquer quinquilharia, teve um grupo hare krishna atravessando a feira com seus insensos e batuques. Tem roupas estranhas, tem móveis antigos, artigos de segunda mão. Tudo. Mas a primeira barraca em que fiquei muito entretida foi uma de chapéus. Sim chapéus: boinas, gorros, de veludo, chadrez, colorido, como quisesse. Fiquei mais de dez minutos experimentando chapéus. Primeiro em uma barraca, depois em outra... experimentando os chapéus e os olhares de reprovação das pessoas. Por fim comprei um chapéu, lindo, vinho com um chadrez em bege, enfim, meu primeiro elemento espanhol.
Dali continuamso andando por algumas horas pelo mercado, até que chegamos à Plaza Mayor. É uma praça histórica de Madrid, que é indescritível e eu por problemas com a bateria não pude tirar fotos. A praça é circundada por pequenos arcos, como pórticos, os prédios do centro todos são muito antigos. Sabe a imagem de prédios baixos, meio coloridos, cheio de janelas... em cada janela uma vida diferente atrás. Atrás de cada arco uma rua estreita, com prédios antigos e coloridos dos dois lados, também cheia de gente a circular, também cheia de janelas com vidas e olhos atras de cada uma. Em cada escadaria uma aglomeração de tudo: artistas de rua, pessoas sentadas no meio da praça (se chama praça mas não tem árvores, é um grande círculo de cimento com uma estátua no centro circundada pelos portais em forma de arco e os prédios), pessoas lendo, pessoas comendo, pessoas deitadas sobre algum tipo de lenço... Vida por todos os lados. Uma das coisas mais lindas que já vi na vida. Me senti em casa na Plaza Mayor, mesmo que hoje ela vá se transformando um tanto para turistas, com bares que parecem muito tradicionais e não são, mas outros que parecem muito tradicionais e são. (Tomei um vinho em um bar que tem o mesmo dono o mesmo tamanho e a mesma descrição há 70 anos). Impossível não se emocionar com a idéia de respirar o passado e viver o futuro. Eu respirando meu passado, meus valores, aquilo que me faz eu, pra viver futuros. Aquele transito todo de gente, a mudança toda, sem mudar o que tinha de maior: a praça é a mesma desde sua fundação por algum rei, por algum motivo. Impossível não sonhar acordada pensando em devaneios na vida por trás de cada olho, de cada janela, de cada chapéu, de cada barraca.
Imagem: M.C.Escher, Balcony, 1945
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