28 março 2007

Silêncio


Tenho andado em silêncio , ou naquilo que, para alguém que muito fala como eu, pode ser considerado silêncio. Silêncio te tira de uma solidão fingida do mundo e te coloca com a solidão de estar em si mesmo. Não leio, não durmo, não vejo tv, escuto música e divago.... passo horas do dia em estado de total autismo pessoal, eleito e proposital. Sentada nos gramados, baixo a um sol ainda meio fraco da primavera que mal começou. Divago. Olhos em ponto fixo, ouvidos abstraindo, boca fechada. Divago, quase não escuto a música, quase não vejo o mundo. Me tranfiro a lugares que na volta já não sei mais quais são.
Meus ouvidos estão mais apurados e seletivos. Escuto todos os ruídos e agora já transformo vozes e diálogos inteiros em canções, ao final das conversas, hein? Não me perguntem, eu não vou responder, prestava atenção em quantas vezes a voz desafina até o mais agudo e volta. Indefini as palavras, que é minha forma de silêncio.
Chego 10 minutos atrasada em todos os compromissos, saio 10 minutos mais cedo e evito consequentemente todas as conversas vazias dos antes e depois. Dou um sorriso e finjo alguma pressa se encontro algum desconhecido conhecido pelos corredores. Prefiro os bares com música ao vivo aos cafés.
Não, não é total desinteresse por pessoas, não é preguiça da mesmice das gentes, não é evitar o inevitável. (?)

Imagen: Muchacha en la ventana, Salvador Dalí, 1925

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