Cem anos de solidão
Hoje acabei meu livro que me acompanhava na minha tão falada solidão. Engraçado ter a solidão acompanhada pelo livro que conta a história de uma estirpe fadada a solidão. Engraçado também que a cada dia que passa a solidão me parece menos triste, ou ainda, me parece tão triste como qualquer realidade. Provavelmente muito influenciada por esses Cem Anos de Solidão, mas esta me parece condição de existência única do homem. Viver em sua própria solidão, enclausurado em sua própria ensimesmice. E é por ser condição de existência que passei a achar a solidão menos triste. Ou talvez tenha me preocupado menos com ela por estar muito dada as graças da vida. A que na verdade esse texto se dedica.
Sim porque eu em minha solidão tenho andado apaixonada pelos dias, pelas noites, pelo mundo e pela vida. A vida tem me concedido muitas de suas graças e eu tenho me deixado levar nas fantasias dessas mágicas. Que sejam artíficios de feiticeiros tolos, não me importo. Resolvi olhar com os olhos de criança, que acredita em qualquer truque de baralho, as graças da vida. E tenho me espantado mais com os pequenos truques que com os grandes números.
Estes dias me peguei rindo pela mágica de estar lendo Cem Anos de Solidão nesse exato momento. Um livro que sempre esteve comigo, que é um dos obrigatórios ao mundo e eu resolvo começar a lê-lo dentro de um avião que me levava para essa jornada de solidão e enclausuramento em mim mesma enquanto me abro pro mundo. De repente a solidão vira meu assunto recorrente, primeiramente motivo de minha angústia, e pela ironia da leitura, virou motivo de minha paz.
Se isso ainda te parece algum pequeno truque de mágico que comprou seu kit na 25 de março, eu continuo com termos práticos, talvez mais fadados a provas reais.
O livro retrata em uma realidade fantástica a história da Colômbia, ou se preferirem, da maior parte dos paísos latino-americanos em seus períodos coloniais, das ditaduras liberais, da exploração estrangeira... E eu estou aqui fazendo um mestrado em Estudos Latino Americanos, cujas matérias nas últimas 2 semanas (período de intensa leitura do livro) foram a história da Guatemala e do México exatamente no mesmo período. Eu li em realidade fantástica tudo o que os chatos textos de chatos estoriadores tentavam me contar em sua realidade crua. Eu nesses tempos de fantasia tenho preferido as realidades fantásticas. E agradeço a vida pela minha.
Se termos práticos não te convencem você é dos meus, que prefere realidades fantásticas. Mas o que te falta? Ainda te parece magia de mágico de circo falido? Eu apresento meu último e mais forte argumento.
Eu estou amando. E amando em solidão. Porque nada pode ser mais sozinho que amar de longe. E tive a graça de ler ontem, no já citado livro, provavelmente a única definição de amor em que fui capaz de acreditar. Porque até ontem acreditava ser impossível definir em termos de razão , com pensamento estruturado, o amor.
"Ambos evocavam agora como um estorvo as farras desatinadas, a riqueza aparatosa e a fornicação sem freios, e se lamentavam de quanta vida lhes custara encontrar o paraíso da solidão partilhada."
Se a solidão é condição de existência, o que poderia ser o amor se não o paraíso da solidão partilhada. E que tenho eu mesmo de longe, se não esse paraíso?
E se isso não te convenceu da magia da vida, te empresto meus olhos de criança encantada, minha ingenuidade que parece bobeira e meu desprendimento que pode se definir em loucura, ou talvez demencia. Te empresto os olhos frente aos quais a beleza de Madrid parece tolice frente a essa graciosidade da vida.
Um comentário:
Oi tati,
Aqui é a Marina, amiga do Guto!
"não, não lembro..." hehehe
td bem, só passei prá dizer que gostei de ler seus posts...!
Boa sorte ai, td de bom!
=)
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