23 março 2007

Escre-ver-te

Queria escre-ver-te em tuas palavras,
com teus versos e teus respiros,
teus olhos e teus suspiros.
Queria escre-ver-te de dentro de tua pele,
com teu sangue correndo em minhas veias,
com tua febre em minhas artérias.
Queria escre-ver-te calçando teus sapatos,
vestindo tuas roupas,
usando teu perfume.
Mas teu perfume não me veste
tuas roupas não me servem,
teus sapatos me apertam.
Tua febre não me arde,
tua pele não me cabe,
e teu sangue hoje é incompatível com o meu.
Não tenho teus olhos,
não respiro teu ar,
não suspiro teu hálito.
Tuas palavras não me saem
e os teus versos não são meus.

Escrevejote então por baixo de pálpebras que já quase não levantam,
de olhos que já quase não vêem,
de pulmões que já quase não respiram.
Escrevejote do desespero do meu diafragma
e das contrações últimas do meu ventre.
Escrevejote do último suspiro,
da nossa extrema unção,
da última comunhão.
Escrevejote em uma única palavra,
aDeus.

Um comentário:

Guto Leite disse...

Lindo, bonita, sua metonímia!