28 dezembro 2007

2007 e o fim

um dos primeiros posts deste blog foi uma retrospectiva de 2006... 2007 era um ano que prometia depois de um 2006 tão cheio de novidades e felicidades. 2007 prometeu e cumpriu. Eita ano! De altos e baixos teve de tudo, e contrariando a teoria da relatividade que diz que quanto mais velho você fica mais rápido passam os anos, 2007 foi tão cheio que parece que não tem fim (de fato, não acabou ainda). O ano que se arrasta.
2007 foi o ano dos sonhos sonhados mas planos não cumpridos. O ano dos imprevistos, das surpresas, do inconveniente, do sacode, socorro! 2007 foi um ano tão feliz quanto infeliz. A definição da dualidade dos sentimentos. E é por aprender com este ano que eu resolvi não esperar 2008, realizá-lo, sonhá-lo, mas não planejá-lo, pensá-lo, nada. 2008 que seja.

Tavez o único pensamento de 2008 seja acabar com este espacinho do qual ninguém, provavelmente nem eu, vamos sentir falta. não por nada,mas fui revisar e o espaço é tão melancólico que me deu coisa. sei que o problema é de quem o escreve, mas dizem que o meio pode influenciar o ser, então quem sabe mudar ou simplesmente acabar com o meio. mas, pensando bem, deixa essa decisão pra 2008. se é que 2008 chega um dia!

11 dezembro 2007

do fim do medo

eu sempre tive, ou pelo menos há seis anos tinha, um enorme medo. de fato, se alguém me perguntasse meu maior medo, eu responderia um: medo da morte do pai. e por fim, no último mês esse medo tão temível tomou data, forma, cor, tamanho, rosto, evento. o medo tão temível teve fim, porque virou verdade. ao contrario porém do que se possa pensar, o fim do medo não traz alívio. o que sobra no fim do medo? um vazio enorme que rapidamente o seu ser se ocupa em ocupar. ocupar com outro medo, que esse espaço estava destinado a isso mesmo e não se pode, na biologia concreta das células do ser, mudar o seu fim. um medo maior que resulta do crescimento de um medo já existente e eu acredito que seja comum a todo ser humano: o temível fracasso (o medo do fracasso, na minha opinião só acaba quando se morre, porque mesmo fracassados podemos fracassar mais). e o temível medo do fracasso cresce com a verdade do fim do outro medo. não há mais resgate, conselho, socorro, não há porto seguro, meu pai não pode ser meu salva vidas do lado da morte. a única esparança a agarrar-me é que sua vida, já vivida, seja capaz de salvar-me.

13 novembro 2007

"Si no puedes tener la razón y la fuerza, escoge siempre la razón y deja que el enemigo tenga la fuerza. En muchos combates puede la fuerza obtener la victoria, pero en la lucha toda sólo la razón vence. El poderoso nunca podrá sacar razón de su fuerza, pero nosotros siempre podremos obtener fuerza de la razón."

Viejo Antonio a Subcomandante Marcos en las selvas del Suroeste Mexicano. EZLN.
En el capítulo "7 piezas del rompecabezas mundial" del libro Mundo global ¿Guerra Global?.

Nenhum sistema é a prova de seres humanos

Quanto mais leio e re-leio sobre a glolbalização, o desenvolvimento, os novos (?) socialismos, a esquerda (?) do século 21, os movimentos sociais, o terceiro setor, as elites e as classes operárias, os movimentos étnicos, enfim, quanto mais leio, mais chego a conclusão de que nenhum sistema é a prova de seres humanos e que toda boa iniciativa será corrompida. Frente a isso penso que o problema do mundo é um problema simples de valores e que só será resolvido quando provemos que o ser humano é capaz de mudar. E essa é a parte difícil, por um motivo simples, não me lembro de época no mundo em que a ganancia e o ter poder (que já foi ter terra, ter meios de produção e agora é ter dinheiro aplicado em capital financeiro) não justificassem qualquer tipo de ação. Por certo a idéia de progresso linear acompanhado do passar do tempo veio abaixo, ou vai dizer que o ser humano evoluiu desde a idade média. Não estou falando de tecnologia ou ciência, estou falando do ser humano. Nunca houve tanta pobreza, tanta concentração de riqueza, tantos mortos de fome e tantas guerras (escondidas baixo nomes mais bonitos ou não). O subcomandante Marcos (por favor, Zapata vive) chama o neoliberalismo de IV Guerra Mundial (a Fria foi a terceira) e deve ter razão, porque a nova ordem mundial traz velhos resultados, resumidamente, mortos e semi mortos.

Frente a toda essa crise de crença na humanidade (digamos em um ambito macro) e uma crise existencial profunda (quem não a teria frente a quadro tão catastrófico) resolvi provar para mim mesma que SIM o ser humano pode mudar e que a consciencia não é a sua condenação à infelicidade se não que a maior arma para transformação (salve Paulo Freire). Por isso me propuz pequenos e simples atos de mudança (começados pelo grande ato de abandono de uma vida rs) e se consigo me manter firme neles acreditarei que o ser humano consciente pode mudar, por isso, deixo aqui uma lista importante:

1) Consciente da minha probabilidade genética à diabete e fazendo um grande esforço já que não exista nada no mundo como um chocolate, prometo a mim mesma comer doces apenas de fim de semana (era uma prática diária) e em quantidades aceitaveis (o que significa não comer toda a lata de leite condensado transformada em brigadeiro entre o sábado e o domingo).

2) Contra o capitalismo neoliberal transnacional, a celulite e a gordura localizada (e em épocas de globalização, porque não falar também da gordura globalizada) parei de tomar refrigerantes e especialmente COCA COLA. Também pararei de comer no Mc Donalds e
no Burger King (mas o hamburguer seguirá sendo parte da exceção da minha dieta).

3) Consciente de que a linguística também é forma de dominação e colonialização do pensamento utilizarei cada vez menos palavras em inglês no meu vocabulário. O primeiro passo, deixei de ser mercadóloga (já ía escrever marketeira).

4) Não pararei de roer unha! Se você não acha que isso é um ato de resistencia entenda que as unhas compridas são um símbolo da sexualidade feminina, ou seja, uma questão de genero e machismo, pelo qual eu resistirei, sem perder a minha identidade glocal, fragmentada e pós moderna.

5) Porque alguma resposta estará no sagrado, meditarei pelo menos 3 vezes por semana.

6) Aguardo sugestões ainda que não existam leitores (porque ter esperança também é resistir).

07 novembro 2007

La soledad era esto

Devorei o livro ao lado. Talvez por algum efeito louco de identificação. Creio que tenho a mania de buscar me identificar com tudo o que vejo. Um ensimesmismo egoísta talvez, ou a busca de algum sentido.Creio que sou um pouco Elena Rincón, aos 44 anos olhando a sua realidade com olhos frios e abandonando-a em busca de algo que não sabe bem quem é. Vivo uma realidade estranha, que venho percebendo mais nestes últimos meses. Percebi que em anos de enclausuramento em volta de um mesmo tema, com tanto tempo dedicado fui desconhecendo-me. Fui despossuindo-me, despossuindo meu corpo, meus gestos, minhas palavras, meus gostos... Sei, por exemplo, que amo música, mas há anos não conhecia outra música que a que sempre escutei. Sei que gosto de gente, mas há anos vinha tendo alguma preguiça de essa categoria. Desaprendi o que fazer com o tempo e ainda hoje me sinto perdida ao deparar-me com uma tarde livre... Um afastamento estranho de uma realidade que deveria viver se produziu, creio que especialmente nos 5 ou 6 últimos anos. Não digo que não vivi esse tempo-espaço, só digo que isso me foi tirando-me de mim mesma, de minha vida, uma vida... uma vida que não tento recuperar agora, mas tento reduzir essa distancia com as coisas quentes do mundo. Tento possuir-me outra vez, a reversão de um processo de metamorfose kafkiano, como Elena Rincón.


La soledad era esto escrito por Juan José Millás, provavelmente não traduzido ao português.

22 outubro 2007

Jorge Drexler - Todo se transforma

Post abaixo!!!

Todo se transforma

O silêncio não é mais proposital, confesso. E dou como desculpa a correria falsa do dia a dia para a verdadeira falta de vontade de sentar pra escrever. Que não se tome por falta de assuntos ou sentimentos, que sentimentos tenho todos, vazando pelos poros... talvez seja algum tipo de cansaço mental estagnador por alguns segundos. Mas para não dizer que não falei de flores, deixo uma música que tem sido tema dos meus dias... Entre outros e principalmente por sua leveza.



Todo se transforma - Jorge Drexler

Tu beso se hizo calor,
luego el calor, movimiento,
luego gota de sudor
que se hizo vapor, luego viento
que en un rincón de La Rioja
movió el aspa de un molino
mientras se pisaba el vino
que bebió tu boca roja.

Tu boca roja en la mía,
la copa que gira en mi mano,
y mientras el vino caía
supe que de algún lejano
rincón de otra galaxia,
el amor que me darías,
transformado, volvería
un día a darte las gracias.

Cada uno da lo que recibe
y luego recibe lo que da,
nada es más simple,
no hay otra norma:
nada se pierde,
todo se transforma.

El vino que pagué yo,
con aquel euro italiano
que había estado en un vagón
antes de estar en mi mano,
y antes de eso en Torino,
y antes de Torino, en Prato,
donde hicieron mi zapato
sobre el que caería el vino.

Zapato que en unas horas
buscaré bajo tu cama
con las luces de la aurora,
junto a tus sandalias planas
que compraste aquella vez
en Salvador de Bahía,
donde a otro diste el amor
que hoy yo te devolvería......

Cada uno da lo que recibe
y luego recibe lo que da,
nada es más simple,
no hay otra norma:
nada se pierde,
todo se transforma.

24 setembro 2007

Pela volta

ao blog, à Madrid, ao extrañamiento...

Yo adivino el parpadeo
de las luces que a lo lejos van
marcando mi retorno
son las mismas que alumbraron
con sus pálidos reflejos
hondas horas de dolor
y aunque no quise el regreso
siempre se vuelve al primer amor
la quieta calle, que en el eco dijo
tuya es mi vida, tuyo es mi querer
bajo el burlón mirar de las estrellas
que con indiferencia hoy me ven volver
Volver con la frente marchita
las nieves del tiempo, platearon mi sien
sentir que es un soplo la vida,
que 20 años no es nada
que febril la mirada
errante en la sombra te busca y te nombra
Vivir,con el alma aferrada a un dulce recuerdo que lloro otra vez.
Tengo miedo el encuentro con el pasado
que vuelve a enfrentarse con mi vida
tengo miedo de las noches que pobladas
de recuerdos encadenan mi llorar,
pero el viajero que huye,
tarde o temprano detiene su andar
y aunque el olvido que todo destruye
haya matado mi vieja ilusión
Queda escondida una esperanza humilde
que es toda la fortuna de mi corazón.
Volver con la frente marchita
las nieves del tiempo, platearon mi sien
sentir que es un soplo la vida,
que 20 años no es nada
que febril la mirada
errante en la sombra te busca y te nombra
Vivir,con el alma aferrada a un dulce recuerdo que lloro otra vez.
Vivir,con el alma aferrada a un dulce recuerdo que lloro otra vez.

14 agosto 2007

Silêncio

Sigo em silêncio e as postagens são cada vez mais esparsas. Culpa do homem ou de Deus, não faz a menor diferença. A sensação de voltar é tão atordoadora que me causa uma única reação. O silêncio. Os milhares de perguntas, comentários, dúvidas, me causam a mesma reação, o silêncio.
Não creiam que é desamor ou desavença. Estou feliz de fato no meio de tanto barulho. O amor pode ser assim, ruidoso. O amor de uma família metade italiana, metade portuguesa e com tudo de brasileiro que se podia ter é definitivamente assim, ruidoso.
Talvez seja porque adquiriu caráter proibitivo. Tudo posso aqui, pela volta, menos manter o silêncio. O ruído de alegrias e as curiosidades me impedem. E por isso, em ato de rebeldia, o farei no único lugar que posso: aqui. Até mudança de fase, sigo assim, em silêncio.


ps:silêncio inspirado pelo silêncio de outra pessoa o da minha irmã.

25 julho 2007

Vazia de paz

queria descrever a felicidade como parece que sei descrever a tristeza. mas a felicidade não me parece poetica, ou seria incompetencia de quem escreve? ainda assim ficam as intenções

Estou em paz. e a paz é vazia.
Não vazia dos enormes buracos negros
que nos tomam em tormentas,
cheios de medos, de aflições,
de desesperos.
Esse buraco de conturbações que nos consome diariamente...
A paz é um completo vazio das angústias,
a inundação do nada.
Quando as preocupações são prazerosas,
as revoltas sadias
e os motivos satisfatórios.
Paz é a não excitação demasiada,
a não euforia.
Paz é a sensação de estar no lugar certo,
na hora correta,
fazendo da sua vida aquilo que você pode escolher.

21 julho 2007

É a setorização do inferno

E não é que o homi desceu mesmo? Desceu não subiu, de cargo, foi promovido a braço direito do Tinhoso, parece que o último que baixou já não tava dando conta do mundo todo. Andam dizendo por aí que o Coisa Ruim resolveu setorizar o inferno. E faltava gente pra divisão de assuntos Terceiro Mundistas. Dizem, só dizem, que a setorização do inferno já tem organograma definido.... e que a coisa fica mais ou menos assim:
(PARA MELHOR VISUALIZAÇÃO CLIQUE SOBRE A IMAGEM)


O Bush entra que parece que esse transita entre a Terra e o Inferno, mas nunca nem passou perto das portas do céu. (E tem tentado, foi esses dias que decretou que a CIA não pode matar nem torturar ninguém em interrogatório e assumiu que tem prisões secretas pelo mundo... jisuis). Parece também que o Tinhoso tá é invocado com o Georgito, que quer disputar o poder e interferir no mundo todo. Andou mexendo no dólar pra ver se o homem pára, mas ainda não surtiu efeitos... já já contata o Bin Laden (dizem que ess é parte do exército do Tinhoso pra qualquer assunto) pra ver se acalma o Bush.

De qualquer maneira, Antônio Carlos Magalhães (vulgo ACM, Toninho Malvadeza ou só u hómi memo) que um dia cuidou só da Bahia, conseguiu cuidar do Brasil e agora está encarregado de TODO o terceiro mundo (que Deus ajude os Asiáticos e os Africanos, os Brasileiros tiveram sua chance) e deixou por aqui o filho (ACM Junior) pra cuidar do senado, além de toda uma escola de Malvadeza.

Pior é que em tempos de crise aéra e acidente da TAM não dá nem pra usar a piada pronta, "o último que sair que apague a luz do aeroporto".

15 julho 2007

Como Caetanear o que há de bom

Acordo, já não era um dia qualquer, um sábado, de verão de julho de férias em Madrid. No dia anterior visitamos amigos e vimos a estréia de Harry Potter, que por incrível que pareça é mesmo incrível. Mas nada disso importava.
Era o sábado. 14 de julho. Verão em Madrid.
Comemos comida equatoriana durante o dia, bananas verdes fritas com cream cheese (patacones) caldo de peixe, camarões, mandioca, cebola, pimentões e molho (não consigo lembrar o nome agora).
Saímos cedo, pegamos o trem e chegamos no polideportivo de Villalba antes das 8 da noite. Alguma fila na porta do estádio e nossa preocupação era conseguir pegar os ingressos comprados na internet, primeiro mundo espanhol, essas coisas não funcionam tão bem. Tanto que quando conseguimos pegar os ingressos os portões já estavam abrindo e eram 9:10.
Sentamos na terceira fila, ao lado de um conhecido na fila de espera, um brasileiro de vida na inglaterra que estava ali para conhecer mais da "sua cultura" e nunca tinha ouvido falar no dito cujo.
Estávamos atrás da fileira de artistas do lado esquerdo. E não podia ser, na fila dos artistas do lado direito chega ninguém mais ninguém menos que Pedro Almodóvar. Assim em carne osso pele e cabelos (organizadamente bagunçados) e a poucos metros de mim.
Isso ainda eram 9:45 e o melhor não tinha começado.

Deveriam ser 10:20 quando sobe no palco Caetano, com seu violão um banquinho e um microfone. Mas é só isso mesmo? Sem banda? sim. Caetano, sentando em um banquinho, com o violão e quase sem programação de show.

Depois de ser alguns minutos ovacionado pelo público espanhol (que definitivamente lhe guarda muito carinho) começa com "Desde que o samba é samba", suave, calmo e tranquilo. Logo depois canta "Volver" e termina com, "é claro, dedicada a Pedro" (Amodóvar, aquele que estava a poucos metros). Continua com clássicos e músicas do Fina Estampa, em resposta ao público espanhol que aplaudia alucinado a cada fim de canção. Não era pra menos, ao vivo Caetano é ainda melhor. Ao vivo, só com o violão e cantando o que ele queria (literalmente dizia que não estava pensando em cantar alguma canção, mas deu vontade), ainda melhor. Caetano é lindo até nos erros. E errou ao cantar O Estrangeiro, Não Enche e até no bis, em Sozinho errou uns acordes. E foi lindo.
E tocou Você é Linda, Qualquer Coisa, Menino do Rio, Leãozinho, Cucurrucucu Paloma, Coração Vagabundo (pra mim momento de total êxtasi), Sampa, uma de Ari sobre a Bahia,Terra,Odeio e Não Me Arrependo, do último CD, Cajuína,Lua de São Jorge,Tonada de la Luna Llena,Luz do Sol ... e muito, uma hora e quarenta, quase duas... e foi lindo.
O que esse homem pode fazer com a voz com o violão e com o público... Ele fez um estádio de futebol virar uma coisa íntima. Me fez chorar.

Enfim, divino. Caetano acaba de subir ao lado de Chico na minha qualificação de divino.

Amém.

10 julho 2007

No te olvides

No te olvides
de esa pereza blanca
de los nombres completos
de la voz grabada en una solo charla

no te olvides los colores, los verdes o azules,
no te olvides el negro y blanco hecho de piel
de los momentos ausentes
de las solitudes acompañadas de García Marques

no te olvides dos días iguales pero distintos, vividos del antes y del después
no te olvides de los tantos días
de las noches de frases en las paredes,
cada palabra pegada y dibujada gritadas y susurradas, escondidas

no te olvides del mundo
del mundo que construimos
no te olvides de ese mundo
no lo borres de ti

"¡Cuán feliz es el destino de las inocentes vestales!
Olvidan el mundo, y son por el mundo olvidadas.
¡Eterno fulgor de la mente inmaculada!
Aceptan cada rezo, y rechazan cada deseo;
practican la meditación y el descanso a tiempos iguales
dóciles durmientes capaces de despertarse y llorar."


La última parte y versos buenos o increibles de hecho creditados a Alexander Pope, De Eloisa a Abelardo

09 julho 2007

Porque saudades também tem limites

Por essas e outras um dia acordou de repente e percebeu o simples, claro, talvez até óbvio. Não tinha acontecido nada de tão especial, os planos íam bem salvo algumas exceções que não a impediam de seguir com a vida cotidiana sem extravagancias que levava. Tampouco fugia, tinha dores de amor, corria de qualquer situação que pudesse ser pouco suportável.

De fato não havia nada, nada. nada.

Só descobriu em um momento que saudades tem limite. E o limite da saudades é aquele em que um dia se desperta e diz, preciso voltar, nem que por um segundo, para poder seguir. Preciso dessa dúzia de olhos olhando pro mesmo lado pra continuar indo por aí. Nesse dia ela levanta e percebe que os motivos pelos quais ela veio definitivamente não são os mesmos que a faz ir e não são os mesmos que a faz vir de novo. Nesse dia percebe que os lugares são pessoas que não se deixam e percebe que agora já tem muitos lugares. Simplesmente percebe que é feliz, muito feliz, mas que saudades, definitivamente, tem limites.

Neoliberalismo, África e Gana. - Le Monde Diplomatique

Fazendo bem os créditos, o Le Monde Diplomatique Brasil publicou em junho uma breve reportagem sobre Gana que me fez mais uma vez acreditar que a África só está mesmo do outro lado do mar. Deio aqui a reportagem pros que queiram....


Gana, retrato da África recolonizada

Primeiro país africano independente, Gana vive sem festas os cinqüenta anos da libertação. Adotadas a partir da década de 1980, políticas neoliberais devastaram a indústria nascente, arruinaram os camponeses e tornaram as cidades caóticas e violentas

Yao Graham

"Estar à altura da excelência africana". Destinado a criar um consenso, o slogan foi escolhido para acompanhar as comemorações oficiais do 50º aniversário da independência de Gana, no dia 6 de março. Provocou uma controvérsia: quem e o que, na história do país, pode simbolizar a excelência africana? Desde então, um grande debate sacode a imprensa. Discussão fomentada desde a herança de Kwame Nkrumah, primeiro presidente desse pequeno Estado da África Ocidental e personagem do panafricanismo, até a política do atual presidente John Kufuor.

Cinqüenta anos após libertar-se da dominação colonial, o país continua diante dos mesmos problemas de 1957. Em suma, os de toda a África pós-colonial: como reestruturar uma economia subdesenvolvida, dependente de algumas matérias-primas (minerais e agrícolas) cujos preços são instáveis? Como transformar e aumentar os rendimentos de uma agricultura de produtividade baixa, baseada na pequena produção? Como industrializar um país com um mercado local atrofiado, no qual as relações com o mercado mundial foram estruturadas pelas economias ocidentais? Como gerar recursos para melhorar, de maneira duradoura, a situação das populações cujas esperanças cresceram no momento da independência? [1]

Do anti-imperialismo ao neo-liberalismo, em três mandatos

Na economia e na política, Gana viveu, desde a década de 1960, todas as experiências africanas. Sob a presidência de Kwame Nkrumah, a economia foi administrada com investimentos na infra-estrutura e no setor social. O governo conduziu uma política de industrialização destinada a reduzir as importações. Nkrumah tornou-se portador da mensagem antiimperialismo, o que incomodou os países ocidentais. Após sua derrubada, em 1966, por um golpe de Estado apoiado pela CIA, o país entrou em um período de instabilidade política, no qual permaneceu até 1982. Em seguida, viveu a imprevisibilidade dos preços das matérias-primas. Como o resto do continente, teve de enfrentar corrupção e má gestão. Sob a presidência de Jerry Rawlings, converteu-se à economia de mercado, com o apoio de instituições financeiras internacionais e dos países do Norte. Modelo de experiências pós-coloniais até os anos 1960, Gana tornou-se paradigma das políticas neoliberais.

Kufuor, sucessor de Rawlings, em 2000, completará seu próprio mandato em 2008. Dos oito presidentes ganenses, somente dois ficaram mais tempo que ele no poder: Rawlings (18 anos) e Nkrumah (nove anos). Nkrumah foi, segundo Amilcar Cabral [ 2], "um estrategista talentoso na luta contra o colonialismo clássico". Rawlings é o arquiteto da Gana atual. Depois de tomar o poder por meio de um golpe de Estado em 1981, foi reeleito duas vezes chefe do Estado. Aparece como o Janus da vida política local, a ponte entre Nkrumah e Kufuor. Durante os primeiros anos de sua presidência, ressaltou a necessidade de reformas econômicas estruturais, de justiça social e, em matéria de política externa, do antiimperialismo. Atacou vigorosamente a corrupção e dirigiu o país de maneira autoritária.

Inicialmente, esse posicionamento geral incitou a desconfiança de Washington. Autocrata e demagogo, Rawlings soube canalizar as esperanças da população e obter sua confiança propondo o objetivo de promover socialmente de uma elite. Mas, embora lembrasse Nkrumah na aparência, quando deixou o poder, em 2000, havia transformado seu país em modelo do liberalismo econômico que conhecemos hoje. Sua política de abertura para os mercados externos era fundamentalmente baseada na busca de investimentos estrangeiros. Reativou o crescimento econômico e restabeleceu a estabilidade política. Porém, abandonou o objetivo de transformar as estruturas da economia de Gana (historicamente dependentes do exterior).

No fim do século, queda das matérias-primas desfaz as ilusões

As duas vitórias eleitorais de Rawlings, em 1992 e 1996 — na última, vencendo o futuro presidente Kufuor —, fizeram-no pensar que estava em harmonia com o país. Entretanto, setores do Congresso Democrático Nacional (NDC), o partido no poder, e uma parte significativa da população continuaram reticentes à economia de mercado. Além disso, importantes frações das elites de Gana recusaram-se a reconhecer o que deviam a Rawlings, principalmente reformas econômicas draconianas e a restauração da autoridade do Estado, condições necessárias à sua prosperidade.

Os que haviam financiado a restauração econômica adotaram uma atitude mais pragmática: o presidente norte-americano William Clinton e a rainha Elizabeth II foram a Acra exprimir sua gratidão a Rawlings por ter reconduzido Gana à órbita ocidental. O antiimperialismo herdado de Nkrumah havia dado lugar ao ambiente da Commonwealth. No entanto, as grandes potências continuavam a desconfiar de um homem de caráter imprevisível, cuja base social parecia frágil.

Produto de vários fatores, a vitória de John Kufuor, em 2000, resolveu essas contradições. Na época, o NDC estava atormentado por tensões internas suscitadas pela sucessão de Rawlings. Esse havia se fragilizado devido ao aumento da corrupção e aos reflexos autoritários que o distanciaram da população. Entretanto, foi a crise econômica de 1999, provocada pela queda dos preços das matérias-primas, que acabou com o governo. As cotações do ouro, do cacau e da madeira — principais recursos do país — caíram, entre 1998 e 2000 (a do cacau caiu 1/3). Na mesma época, o custo das importações de petróleo duplicou, em virtude da alta do barril nos mercados mundiais.

A crise, produzida após anos de frustrações sociais relacionadas ao crescimento das desigualdades, revelou as fragilidades estruturais da economia de Gana: dependência da ajuda externa e peso da dívida, que passou de um bilhão de dólares, em 1983, para seis bilhões, em 2000. Duas décadas de liberalismo econômico e de "livre" comércio fragilizaram a produção local (agricultura, manufatura) e agravaram a dependência externa do país, problema com o qual Gana continua se confrontando. O golpe de misericórdia no governo Rawlings foi dado quando um conflito com os doadores atrasou a chegada da ajuda, no final dos anos 1990. Alguns membros do NDC avaliam que as instituições internacionais procuraram favorecer a vitória de Kufuor, personagem muito mais controlável (Sob a tutela da Casa Branca).

Instabilidade social. Enfraquecimento da nação. Dependência

Em 2001, o novo presidente aceitou a iniciativa países pobres muito endividados (HIPC, na sigla inglesa). Essa decisão voltou a reconhecer que as reformas liberais, tão vangloriadas, haviam, na realidade, levado o país à falência e o tinham tornado mais vulnerável às condicionalidades das instituições doadoras. Ainda assim, Kufuor mostrou-se disposto a estender e aprofundar as políticas em questão. Em troca, as instituições financeiras aceitaram liberar o país de uma parte de sua dívida. A ajuda voltou e o governo pôde estimular a educação primária e a infra-estrutura. Entre 2001 e 2006, o crescimento passou de 3% para 6%. No entanto, o aumento das desigualdades e as fragilidades estruturais da economia constituem uma bomba de efeito retardado para um regime aparentemente estável.

Os 20% mais pobres recebem, hoje, 8,4% da renda nacional, enquanto os 20% mais ricos abocanham 41,7%. Em 2002, um estudo do Centro para o Desenvolvimento Democrático – um think tank ganense – revelou a dimensão do desemprego e do subemprego, além de denunciar o "abismo crescente entre os ricos e os pobres [3]." Dois terços das pessoas entrevistadas qualificam sua situação econômica como ruim. A maioria dos participantes aponta, entre as prioridades, a criação de empregos, a redução da pobreza e da exclusão.

Nos últimos anos, multiplicaram-se as greves relacionadas aos salários e às condições de vida. Mas elas terminaram sem que os trabalhadores tivessem êxito. As medidas pontuais adotadas para lutar contra o êxodo de intelectuais e pesquisadores (prêmios de repatriamento, campanhas de recrutamento dos residentes no exterior etc.), produziram incoerências e desigualdades extremas na grade dos salários do setor público.

Foi prometendo "a idade do ouro dos negócios" que o presidente Kufuor elegeu-se em 2000. Sete anos depois, os empresários locais, principalmente os da pequena manufatura, reclamam que o governo só pensa em satisfazer o capital estrangeiro. A prioridade dada ao "livre" comércio traria um prejuízo ao desenvolvimento da capacidade produtiva da antiga Costa do Ouro. Na capital, Acra, as fábricas abandonadas foram convertidas em entrepostos para as importações ou em igrejas para acolher o número crescente de fiéis dos movimentos evangélicos.

Êxodo rural e desemprego tornam cidades inchadas e violentas

Baseada no estímulo às exportações de cacau, gás, petróleo e, também, de minerais (ora prata, ora manganês), a economia não criou um número de empregos suficiente. Os poucos que há são mal-pagos. Isso provocou migrações internas e externas, das quais a mais conhecida é a de profissionais do setor de saúde [ 4]. O êxodo mais importante diz respeito a milhares de jovens, pouco formados mas instruídos, cujas rendas permitem – quando bem-sucedidos no exterior – que um grande número de famílias se mantenha acima do limiar de pobreza.

Entre os muitos funcionários demitidos na época das reformas liberais adotadas nos anos 1980-1990, poucos encontraram trabalho. As fileiras desses desempregados durante muito tempo foram ampliadas pelo êxodo rural provocado pela pauperização dos campos. Na verdade, a agricultura local, de produtos alimentícios principalmente, foi arruinada pela política de abertura aos mercados mundiais, pela falta de terras disponíveis e de perspectivas econômicas. Nesse mundo rural, onde vive a maioria dos ganenses, a insegurança econômica tem um aspecto particular, o dos sem-terra. A maioria das pessoas não é proprietária e depende de um terceiro: assalariados agrícolas, meeiros, jovens, mulheres perdem facilmente seus direitos. Como o governo não soube responder a essa insegurança jurídica, a instabilidade fundiária desestabiliza o país. É o mesmo que ocorre em outras regiões da África Ocidental, onde as terras estão na origem das explosões de violência [5].

Em 2000, 80% da população ativa exerce alguma atividade no setor informal: por exemplo, camelôs não regulares. Na maior parte das grandes cidades, esse fenômeno derrota as autoridades, que respondem com medidas de segurança. Na verdade, as dificuldades da vida cotidiana e a corrupção cada vez maior corroeram a confiança que a população tinha no partido do poder — o Novo Partido Patriótico (NPP). País-símbolo, Gana não conseguiu traçar a via de um desenvolvimento autônomo, nem colocar em ação as transformações socioeconômicas necessárias.


Tradução: Wanda Caldeira Brant
wbrant@globo.com



[1] Ler, de Gareth MacFeely, Le Ghana entre rêves et maux d'antan, Le Monde diplomatique, edição francesa, outubro de 2001.

[2] Amilcar Cabral (1924-1973) foi um líder da luta contra a colonização portuguesa à frente do Partido Africano para a Independência da Guiné-Bissau e do Cabo Verde (PAIGC).

[3] http://www.cddghana.org/information.asp?tl=Annual%20Reports&cd=8

[4] Ler, de Karl Blanchet e Regina Kieth, "A África enfrenta o êxodo de médicos", Le Monde Diplomatique-Brasil, dezembro de 2006.

[5] www.amenagement-afrique.com

Um mês sem postar

E assim foi um mês sem postar, sem falar com ninguém e sem mais um monte de coisas.... Um mês de entregar 10 trabalhos pro mestrado (entreguei o último depois de uma noite virada na semana passada), um mês de mudar de casa e antes disso encontrar casa pra morar, um mês de procurar muitos empregos, ir à muitas entrevistas e não conseguir nenhum, um mês de bons amigos chegando e indo, um mês de trabalhar mais e ganhar um pouquinho a mais e uma semana de julho pra terminar esse mês de junho que foi longo demais.

No fim, tudo certo e lindo, notas entre puros 8s 9s e 10s (jesuis, não é que a menina continua CDF?), casa nova barata, um pouco longe, mas ainda assim valendo a pena, bom empregos.... mmmmmm.... acho que eu vou pro Brasil em agosto (rs).

no fim esse post é quase um relatório de atividades e um pedido grande de desculpa praqueles que eu sumi (ou seja, todos).

Beijocas

06 junho 2007

Bush a favor da democracia e dos direitos humanos. Não, não é piada.

Hoje li no ABC (jornal de direita espanhol que eu estou essa semana distribuindo, em mais um dos meus fantásticos mini-empregos) a seguinte notícia: "Bush replica a Putin con duras críticas por hacer descarrillar las reformas en Rusia". Bush participou de um encontro promovido por Aznar (pra quem não conhece o homem, é ex-presidente da Espanha do Partido Popular - partido de direita - que entre outros contos de fadas, levou soldados pro Iraque atrás das tais armas... bom essa parte o Bush o Blair já tentaram explicar) para falar de democracia e segurança, um encontro que pretende homenagear os comprometidos com o reclamo da democracia frente aos governos que a negam.

Parece que o discurso de Bush foi desses históricos e segundo o jornal "hizo una encendida defensa del derecho a la libertad y la democracia para todos los seres humanos".

Segundo o tal presidente (alguém se lembra das controvérsias sobre os resultados de sua eleição?) o principal legado de seu segundo mandato será a promoção da democracia no mundo. Sinceramente, começo a acreditar que esse homem é criativo. Primeiro pela fantástica mudança de discurso. A guerra no Iraque não é mais uma guerra promovida pela presença armas de destruição em massa, químicas ou as enormes variações que houveram no motivo da mesma, nem seu governo quer ser o grande símbolo da luta contra o terrorismo. Agora o lobo mau quer virar a chapeuzinho e dizer que a intenção estadounidense é defender e promover a democracia no mundo. Eu quase me emociono. E me pergunto se com o número de baixas no Iraque vão sobrar cidadãos pra construir essa tal de democracia.

O tal presidente, aparentemente eleito, fez duras críticas às reformas de Putin (que esses dias andou ameaçando a Europa com apontar seus mísseis e por aqui já se fala da possibilidade de uma nova Guerra Fria) e ao governo Chinês (que deve estar mesmo incomodando os Estados Unidos com o crescimento da economia frente a paralisia yankee) mas quando perguntado sobre seu apoio ao Egito, Arábia Saudita e Paquistão ele disse que esses países sendo aliados fazem esforço para a abertura democrática e que Estados Unidos seguirão pedindo esse esforço. "América pode manter a amizade com um país e seguir pedindo ao mesmo tempo que se democratize", nas palavras do próprio presidente. Pros amigos a gente pede, os inimigos a gente invade. E a definição de amigo e inimigo quem dá sou eu conforme interesses excusos. Adoro esse presidente.

Vou terminar com uma declaração que de verdade me fez cair em lágrimas:
"Más valioso que las armas es la libertad como expresión universal, garantía de los derechos humanos".

De fato, as nossas ditaduras patrocinadas que o digam, os Cubanos embargados que o digam, os presos de Guantanamo que o digam, os Iraquianos y Afegãos (que super resultado democrático o dessa guerra) que o digam. E que os Estados Unidos algum dia aprendam a lição que aprendi com a mamãe quando era bem pequenininha: a liberdade de um termina onde começa a do outro.

05 junho 2007

Politicamente correto é o caraleo

Tem dias em que eu simplesmente quero que o mundo exploda... E não vem com essa de e os outros, as criancinhas, o futuro, a putaquelepario. Tem dias que o politicamente correto, o discurso academico, a mediação e qualquer termo moderado tem mais é que ir pra casa do dito cujo.

Momentos ilustrativos em discussões supostamente acadêmicas (e os acadêmicos ao caraleo também).

Porque a multiculturalidade, os indígenas, o direito constitudinário.
Indígena é o caraleo. Tem 300 mil num país de 188 milhões, e 50% da população morre de fome. Os indígenas que se contentem com a porra das terras da FUNAI e não encham o meu puto saco.

Porque a existência para o racionalismo é uma sequência de escolhas racionais definidas...
Escolha é o caraleo. Neguinho nasceu morrendo de fome e escolheu o que? Feladaputa. E razão de u é ola que se o ser humano fosse racional o mundo não era essa merda porra. Ou vai dizer que você escolheu viver assim. E agora querem liberalizar até religião. Já ouviu a história que você escolhe a família que nasce? Se nasceu pobre e morto de fome problema teu fela, escolheu antes de nascer... Aaaaaa pra poquelepario essa de escolher família.

Porque para a cooperação internacional o desenvolvimento...
Cooperação Internacional é o caraleo. Ou alguém já viu neguinho querendo que o outro se dê bem. Desenvolvimento por cooperação alheia é utopia de quem não tem noção da porra que é o mundo.E cooperação vindo da boca de colonizador só pode ser piada. Feladaputa.

Ía continuar a lista, mas hoje acordei de volta ao meu politicamente correto diário, a ponto de querer apagar o post. Aí resolvi deixar meu lado B com direito de expressão. O post fica, ainda que cheio de reticências.

Corrente, fazer o que.

Faz um tempão me mandaram isso por e-mail. Outro dia me cobraram a resposta e eu que estou quase explodindo de pensar - entre as reformas neoliberais no Brasil, o Oswald Andrade, a mediação de conflitos, a governabilidade e mais sei lá o que - resolvi responder no blog.

07 coisas que tenho que fazer antes de morrer:

  1. Conhecer a Ásia a África e mais 24 territórios a minha escolha
  2. Voltar a trabalhar, de preferência em alguma coisa que de fato mude a vida de alguém.
  3. Constituir família e aquela coisa toda.
  4. Conseguir ler um livro a minha escolha por mês. Fora dos obrigatórios dessa eterna vida de estudante.
  5. Aprender a tocar algum instrumento musical (não, reco-reco não vale).
  6. Aprender a dançar: tango, gafieira, forró, salsa e muitos outros três pontinhos.
  7. Fazer o mochilão LATAM 2010 e descobrir que esse vai ser de fato o meu mestrado.

07 coisas que mais gosto:

  1. Chocolate. Frutas com chocolate. Leite com chocolate. Brigadeiro de chocolate (e existe algum outro?). Cigarrinhos de chocolate. já deu pra entender.
  2. Música. Todo o tempo.
  3. O sofá da sala.
  4. Andar com tempo com o ipod na orelha. De preferencia em um parque qualquer, pra espairecer.
  5. Banho de cachoeira. A trilha até a cachoeira. O cheiro de mato da trilha até a cachoeira. O barulho do vento na árvore que está no caminho até a cachoeira. já deu pra entender...
  6. Dormir junto.
  7. Banho quente em dia cansado (e em dia frio).

07 prazeres fúteis:

  1. Comprar chocolate em horas de desespero.
  2. Deitar na grama e tomar sol (com música melhor)
  3. Fazer os outros rirem.
  4. Ganhar cafuné.
  5. Chegar em casa e me atirar no sofá.
  6. Autistisar-me. Ou seja, pasmar olhando pro nada e divagando.
  7. Descobrir um lugarzinho (desses que quase ninguém percebe ou vê mas é maravilhoso).

07 coisas que mais digo:

  1. Por Dios!
  2. Que se yo!
  3. al carajo (em português também)
  4. uff que cansancio
  5. es que es increíble
  6. aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
  7. preciso de un empleo

07 coisas que faço bem:

  1. lembrar de inutilidades como o pi, as formulas de velocidade, comentários estranhos...
  2. fazer os outros rirem
  3. falar em público.
  4. Argumentar.
  5. Massagem (dizem)
  6. Decorar letra de música.
  7. montar power point

07 coisas que não faço:

  1. Matar (ainda).
  2. Mentir feio (porque falar pra vó que a sopa de aveia tá boa eu faço)
  3. tratar as pessoas de maneira diferente por cargo ou posição social
  4. não sou partidária do menosprezo.
  5. comer fígado (literalmente, no sentido figurado é outra coisa...)
  6. concordar com 100% - de qualquer coisa eu sempre tenho uma dúvida, um ponto ou um por quê?
  7. rotular - odeio definir uma coisa tão complexa como o ser humano em uma palavra

07 coisas que me encantam:

  1. Dormir.
  2. Gente que sabe cantar ou tocar algum instrumento (especialmente violão)
  3. barulho de mar ou cachoeira...
  4. a cor do céu em dia de tempestade e toda essa transformação e demonstração de poder que são os relampagos e os trovões
  5. o Chico (Buarque)
  6. as genialidades da gente comum
  7. A comida do meu pai.

07 coisas que odeio

  1. O academicismo verborrágico, ou seja, neguinho que lê pra caralho e resolve que todas as discussões serão em torno de tudo o que já leu. Egolatra do caraleo.
  2. Preconceito inclusive entre os supostamente iguais
  3. Vampiros emocionais, essa gente que te suga até que você se acabe
  4. Gente que sempre tem uma frase, sabe a frase pronta, o ditado, o caso????
  5. Gente que ri de tudo e gente que nunca ri
  6. fila
  7. não conseguir decidir algo. Imagina o sofrimento de montar essas listinhas feladaputas de 07 coisas que...

29 maio 2007

To pensando em mudar o nome do blog pra...

VERMELHO - a a única coisa em comum entre meu humor, minha ideologia, minha tpm e minha conta bancária.

¿Les parece?

Só agora....

percebi que já faz quase um mês que não escrevo... e devo continuar assim até meio ou fim de junho, quando termino de entregar os 10 (sim, dez não é exagero) trabalhos que tenho pro mestrado...

Enquanto isso, breve lista para identificar quando o $$ realmente ta acabando:

- Você se auto corta o seu cabelo a si mesmo (também se auto faz a unha, a sombrancelha, a depilação...)
- Você se auto faz comida todos os dias e leva marmita pra universidade
- A última coisa que você comprou foi um sapato de 15 euros pra poder trabalhar como recepcionista de congresso e ganhar 60.
- Você percebe que comer no Mc Donalds é um luxo ao qual você não pode (bom, também não quer) se dar
- Bebe menos breja porque menos breja é igual a menos gasto.
- A saída de fim de semana é caminhar pela cidade levando água na mochila e tomando a velha breja só quando chega em casa.
- A última vez que comeu carne boa foi porque alguém te convidou (brigado!)
- Utiliza a tática de não levar dinheiro na carteira. Quem não tem dinheiro não gasta!

Se você apresenta 3 ou mais sintomas, amigo... ou você é mão de vaca pra caraleo ou tá pobre que nem eu...

03 maio 2007

Ironias do destino

Nunca ter sido roubada em São Paulo em 23 anos e em 6 meses ser roubada duas vezes em Madrid não te parece ironico? A mim parece.

Duas linhas pelo dia cinza, a chuva, o roubo e o consequente mau humor. Cem linhas a serem escritas sobre a felicidade de rever após 6 meses a melhor amiga irmã...

27 abril 2007

Vou-me embora pra Pasárgada?

"Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei"

Se caem os reis,
se se fazem ruínas as camas,
se Pasárgada já não está?

Minha Pasárgada eu sei, não se conjuga no pretérito de vir,
nem no futuro de regressar,
se conjuga na pretensão do verbo ir,
na projeção do existir
e na hipótese de chegar.




Fazendo as contas...

Do mestrado:
- 6 matérias em andamento (outras muitas já completadas)
- 9 trabalhos finais a entregar
- Média de leitura semanal (pedida e não completada): 200 páginas
- A data do fim? (do primeiro ano) 18 de junho

Do trabalho (intelectual e braçal x semana):
- 22 horas de aula
- 18 horas de trabalho na universidade durante a semana
- 20 horas de trabalho no fim de semana
Total:60 horas
Faltando: horas de leitura e de realização dos trabalhos do mestrado

Gastos (mensais):
- 350 euros de aluguel
- 50 euros de gastos com luz, água, gás e telefone
- 100 euros de mercado
- 10 de celular (sim sou pré pago pai de santo)
- 30 euros de cópias (imagina o quanto eu to lendo)
- 60 euros de transporte
- 0 euros da breja

Alguém bom de matemática faz as contas, monta as derivadas e me passa a cola com a reolução do problema?????

25 abril 2007

Há 6 meses (em 9 de maio) eu não

Plageando o blog de um quase irmão que também esteve viajando (por 3 meses) e há muito pouco voltou à "pátria amada idolatrada, salve, salve" deixo aqui uma listinha pra lá de saudosa:

Há 6 meses eu não:

  • como requeijão
  • nem sei o que é catupiry
  • vou pra um samba decente, ou um forró, ou um samba-rock, ou qualquer uma das "baladas" que eu de fato curto fazer
  • ponho o pé descalço na terra
  • pago menos de 6 reais (convertendo) num suco de laranja (imagina tomar um suco de melancia)
  • como carne decente (carne, hein?)
  • vejo um jogo do Timão na TV
  • ando de Havaianas fora de casa
  • dirijo
  • tomo uma breja gelada num boteco (e chamo breja de breja)
  • brigo com meus irmãos
  • vou andar na Paulista
  • tomo banho de cachoeira
  • tenho lojas 24 horas à disposição
  • xingo quem corre no Ibirapuera às 11 da manhã
  • como pão francês
  • vou pra Vila Madá
  • como porcarias deliciosas: coxinha, risolis, bolinha de queijo, pastel de feira, caldo de cana...
  • pego inundação na Marginal
  • ando mais de 30 kilometros dentro da mesma cidade
  • ganho beijo de boa noite da mãe e do pai
  • escuto: pamonha, pamonha, pamonha. Pamonha de Piracicaba...
  • tomo banho de mar (bom esse faz mais de 6 meses)
  • enfrento a feira da rua de casa
  • passo calor
  • falo no diminutivo: tomar um cafézinho, dar uma voltinha, comer um negocinho, dar uma ligadinha, rolar uma festinha, tomar umazinha... (exceção: Ronaldinho)
  • vou pra algum lugar de nome bizarro (como Ibitipoca, Delfinópolis e companhia)
  • reticências (...)

Deu pra ter uma idéia?

18 abril 2007

Marrocos I - o overview da viagem

Com todas as impressões possíveis voltei do Marrocos. Impossível fazer uma viagem pra um mundo tão distinto sem voltar sentindo-se algo diferente. Impossível não perceber os olhos cheios das tantas cores, o nariz sensibilizado pelos cheiros que invadem as ruas das Medinas e o estômago revolto.

Os olhos começaram maravilhados por Chaouen. Em alguma poesia deveriam escrever sobre essa cidade que veste a cidade de azul e branco pelo céu e pela água, que pinta suas casas na véspera da festa do profeta, com gentes tão distintas e amáveis que te convidam para tomar chá de menta em qualquer momento, por arábes que contam histórias de mundos difíceis e imaginar

Dois dias depois partíamos para fez, eu feliz, com o mundo a ser descoberto na primeira cidade imperial do país e com o fato de o Marrocos ter fruta boa e barata como a nossa, de tomar café da manhã com suco de laranja (com bananas ou morangos), pão quentinho, torradas e mel.

Fez foi o encontro dos olhos maravilhados, o nariz reativado (imaginem a alérgica na loja de especiarias) e o estômago revolto (explicado em capítulo a parte). Fez tem uma medina do século 9 e o "bairro novo" é do século 14. A medina tem 18 portões (acho), 9000 ruas e 200 bairros. Sim, temque visitar com guia. Um guia simpático que em inglês marroquinho ía contando a história da cidade, mostrando a primeira universidade do mundo, me convencendo de que tudo foi inventado pelos árabes (teoria da Acácia confirmada na viagem).

As maiores impressões no entanto não vinham das palavras do guia, se não dos olhares e das reações das pessoas. Mulheres que se escondiam das câmeras fotográficas, homem que comiam com os olhos as turistas "desnudas" caminhando pelas ruas, os gritos de "sai da frente" quando um homem comandando um carro com mula passava pelas ruas da medina (as mulas, se param, demoram a voltar a andar), as negociações intermináveis e incansáveis com cada vendedor, os olhos de cada artesão, o cheiro e o sabor de cada comida...

O guia foi insuportável e nos levou em cada lojinha comissionada que pode, mas isso fica para um capítulo a parte.

A quarta feira foi um desastre bem acabado. Acordamos e no ônibus descobriram que tinham esquecido 3 atrasadas no hotel, enquanto essas chegavam uma quarta desmaia e atrasa a viagem por mais uma hora e meia. Enquanto as três atrasadas nos encontravam e a desmaiada ía para o hospital descobrimos que a estrada que levava à cidade a que íamos estava danificada porque havia nevado e muito. Mudança de planos íamos pra outra cidade.

Chovia torrencialmente e fazia um frio de gelar o último pelo do ... (corpo), quando chegamos à Volubilis. Capital do Império Romano no Norte da África, uma das ruinas mais conservadas do mesmo império. Ao pisar no meio da cidade romana, um arrepio na espinha que não era causado pela chuva ou o frio. A sorte de estar perto de um historiador, e a sensação de andar no tempo já existente pela medina de Fez se intensifica. Indescritível, indiscutível e inegável. Volubilis foi o dia de sorte da viagem, com todos os contratempos do mundo.

Finalmente chegamos última cidade, Asilah, que é linda, mas de praia, cá entre nós, a Bahia entende muito mais... assim que a deixo com um único comentário, a praia era linda, mas estava tão suja que me dava medo de por o pé no chão.

Post (in)devido

Faz tanto tempo que eu não "posto" no blog que estou me sentindo mais em dívida que se tivesse a conta no vermelho. E tem tanto assunto que também não sei por onde começar e só de pensar em começar dá uma preguiça...

Assim que resolvi que vou postar em pequenas edições ao longo dos dias ou das horas conforme mandar a minha paciência. Aviso que meu mau humor tem me assolado nos últimos dias derivado de um cansaço derivado de um sistema infernal de trabalho que eu me arranjei para poder pagar o aluguel (e poder usar essa frase sem que seja mentira), levar pra casa o leitinho das crianças (considerando criança este ser humano que ultimamente subesiste:eu) e manter a conta fora do vermelho (em euro, que é fo...). Confesso também que tenho ótimas desculpas para a ausência blogueira como a viagem pro Marrocos e o sistema infernal de trabalho. Mentira, somados os empregos agora eu passo 38 horas da semana (20 delas no fim de semana) obrigada em frente a um computador fazendo nada ou quase nada, levando o leitinho das crianças.

Não postei por falta de paciência com o mundo.

Pra tornar este inútil post útil fica o endereço do flickr com fotos novas: www.flickr.com/photos/tatibertolucci

E assim fica e por aí vai

28 março 2007

Deus ajuda quem cedo madruga.

Hoje, pela primeira vez em 20 dias acordo cedo, de fato a tempo de chegar à aula no horário. Saio de casa a tempo. Pego o metrô, o trem, com calma, sem pressa, quase um milagre. Vou chegar com 10 minutos de antecedência à aula. E cheguei. Às 9:50. Entrei na sala, sentei com uma música qualquer nos ouvidos e esperei.
Esperei.
Esperei.
Às 10:10 eu, pessoa ansiosa, concluo que há algo errado e decido correr para checar se estou no horário correto e no lugar correto. No fim, descubro o óbvio. No único dia em que chego cedo à aula, não há aula.
Agradeço à Deus por livrar-me dos diálogos de antes e depois. Vou ao gramado, com sol e finjo começar a ler...

Silêncio


Tenho andado em silêncio , ou naquilo que, para alguém que muito fala como eu, pode ser considerado silêncio. Silêncio te tira de uma solidão fingida do mundo e te coloca com a solidão de estar em si mesmo. Não leio, não durmo, não vejo tv, escuto música e divago.... passo horas do dia em estado de total autismo pessoal, eleito e proposital. Sentada nos gramados, baixo a um sol ainda meio fraco da primavera que mal começou. Divago. Olhos em ponto fixo, ouvidos abstraindo, boca fechada. Divago, quase não escuto a música, quase não vejo o mundo. Me tranfiro a lugares que na volta já não sei mais quais são.
Meus ouvidos estão mais apurados e seletivos. Escuto todos os ruídos e agora já transformo vozes e diálogos inteiros em canções, ao final das conversas, hein? Não me perguntem, eu não vou responder, prestava atenção em quantas vezes a voz desafina até o mais agudo e volta. Indefini as palavras, que é minha forma de silêncio.
Chego 10 minutos atrasada em todos os compromissos, saio 10 minutos mais cedo e evito consequentemente todas as conversas vazias dos antes e depois. Dou um sorriso e finjo alguma pressa se encontro algum desconhecido conhecido pelos corredores. Prefiro os bares com música ao vivo aos cafés.
Não, não é total desinteresse por pessoas, não é preguiça da mesmice das gentes, não é evitar o inevitável. (?)

Imagen: Muchacha en la ventana, Salvador Dalí, 1925

23 março 2007

Escre-ver-te

Queria escre-ver-te em tuas palavras,
com teus versos e teus respiros,
teus olhos e teus suspiros.
Queria escre-ver-te de dentro de tua pele,
com teu sangue correndo em minhas veias,
com tua febre em minhas artérias.
Queria escre-ver-te calçando teus sapatos,
vestindo tuas roupas,
usando teu perfume.
Mas teu perfume não me veste
tuas roupas não me servem,
teus sapatos me apertam.
Tua febre não me arde,
tua pele não me cabe,
e teu sangue hoje é incompatível com o meu.
Não tenho teus olhos,
não respiro teu ar,
não suspiro teu hálito.
Tuas palavras não me saem
e os teus versos não são meus.

Escrevejote então por baixo de pálpebras que já quase não levantam,
de olhos que já quase não vêem,
de pulmões que já quase não respiram.
Escrevejote do desespero do meu diafragma
e das contrações últimas do meu ventre.
Escrevejote do último suspiro,
da nossa extrema unção,
da última comunhão.
Escrevejote em uma única palavra,
aDeus.

22 março 2007

"Colo e cafuné" também não tem tradução

Desde pequenininho a gente aprende que saudades é a única expressão do português que não tem tradução. Ledo engano. Descobri recentemente que "colo e cafuné" também não tem.
Para falar "colo e cafuné" em espanhol teria que dizer o equivalente a parte superior da coxa e carícias no cabelo. Por exemplo, "Eu quero colo e cafuné" teria a tradução em: "eu quero deitar sobre a sua perna (ou coxa) e ganhar carícias nos cabelos" que definitivamente não é a mesma coisa. Verdade, se poderia ensinar... mas acho que nunca aprenderiam, como nunca entendem que saudades não é o mesmo que sentir falta...
Acho que nunca entenderiam a cumplicidade existente em "colo e cafuné". Ou a intimidade da troca de olhares do protegido e o protetor. Provável que nunca entendam que existe um protegido e um protetor. Que em "colo e cafuné" existe um silêncio implicito, algumas lágrimas escondidas que caem dos olhos virados ao outro lado. Que "colo e cafuné" também quer dizer confiança, responsabilidade. Às vezes quer dizer também segredo, apoio, quer dizer estar ali. Presente, junto, parando o mundo por aquele segundo. Segundo de "colo e cafuné".

21 março 2007

Quartas - feiras

Às oito acorda às oito e dez levanta às oito e doze se banha às oito e meia come, às quinze pras nove sai às cinco pras nove pega o metrô às nove e dez pega o trem às vinte pras dez chega às dez tem aula até à uma à uma tem aula até às duas e meia às duas e meia trabalha até às seis e às quatro e meia vai pra aula às dez pras seis deixa a aula ao meio às seis chega ao trabalho e trabalha até às nove às nove e quinze pega o ônibus às quinzes pras dez o metrô às dez chega em casa às dez e um usa o banheiro às dez e cinco cozinha às dez e meia come, às dez pras onze deita. Durante o dia vive (?), durante a noite morre.

11 março 2007

Pelo fim do mundo lírico.

Cansei das lágrimas dos poetas,
das palavras dos sensíveis,
das discussões infindáveis,
das teorias,
das filosofias.

Cansei das metáforas,
especialmente cansei das metáforas,
e de qualquer figura de linguagem que não seja a ironia.
Cansei de diminutivos carinhosos e de superlativos mentirosos.
Cansei de metonímias desregradas e enganosas,
Cansei dos pleonasmos e das aliterações da vida, cotidianos.

Quero de volta meu pragmatismo.
Quero ser direta e clara.
Quero a transparência absoluta.
A não ambiguidade das frases curtas.
A incisão das palavras simples.
Quero o objetivo.
A ironia do objetivo.

09 março 2007

Descomunicação

Falar duas línguas (ou mais) te faz um só favor. Ser mal entendido nas duas.

- Hola, por favor puedes regalarme uno de eses.... mmmmm.... como se llaman? Canudos?
- Que?
- Sí de eses.... mmmm.... (gesto manual de quem segura um canudinho)
- Por Dios que me pides (garçonete vira enfesada e não olha mais a noite inteira)
Depois, no dia seguinte a descoberta incrível: canudo aqui chama pajita.... e canuto aqui é beck....

- Pero mira vos donde me tenés (diz um chico argentino a chica brasileira)...
- Pero yo? Donde te tengo?
- Sí mira donde me tenés vos por Dios
(Chica brasileira segue sem entender como pode ter alguém que conheceu há pouco... chico argentino só queria dizer que la chica esa tinha lhe colocado em uma situação ruim....)

- Porque XXX es muy amigo.... muy amigo.... me gusta muchísimo (diz menina brasileira a amigas de diversas nacionalidades hispano hablantes)
- Pero te gusta o es amigo?
- Los dos claro, es amigo porque me gusta!
(Menina brasileira aprende de uma vez por todas que gustar em espanhol tem a ver com atração física e não só com o fato de achar legal...)

Pra piorar.... outro dia escrevo um texto a um amigo cheio da palavra parece. Parece que sim, parece que ela disse, parece que gosta e mais um milhão de pareces.... tinha esquecido que o parecer em português pode parecer bem irônico... aqui parecer se usa pra tudo... até pra perguntar o que você acha alguém diz: te parece?

enfim, post besta só pra dizer como concretamente eu estou gradualmente perdendo meus dons de comunicação!

05 março 2007

Parece que virou poema

As árvores secas, cinzas e quebradiças começam a voltar ao verde. As cerejeras e amendoeiras dão as primeiras flores da estação. São brancas, pequenas margaridas de cera que deixam suas pétalas voarem nos últimos ventos de inverno. Os dias cinzas se enchem de sol e ainda que os ventos frios gelem a pele e ouricem os pelos é impossível sentir o frio dos dias cinzas invernais que gelam de dentro pra fora, congelando as formas de vida. O céu se põe ao sono em vermelhos, laranjas, amarelos, azuis e roxos impossíveis e não passíveis de descrição ou fotografia. A sensação de estar vivo daquilo que só os olhos presenciais vêem e só a memória (não a da camera) guarda com a intensidade original. Os olhos registram involuntariamente um rio de cores celestes que se fundem a cada segundo em transição por influencia do ir e vir das nuvens. Os ventos gélidos não trazem só o frio, trazem ao rosto as pétalas brancas anunciadoras de vida. Voam em direção aos rostos sorridentes baixo raios de sol que começam a esquentar o corpo. Meus olhos ainda doem da claridade reluzente e nova. Mas doem felizes, que sabem da alegria que vem dessa dor. Dor do renascer de vida. Dor do reluzir de novo. Dor do fim de cinzas. Do fim do inverno. Dor daquilo que parece que virou poema.

Parece que virou poema

O hai kai aí de baixo, parece que virou poema. Pra quem quiser é só olhar nos comentários. Pra quem quiser muito poema, parece que publicaram: http://gutoleite.blogspot.com


Obrigada ao outro autor.

01 março 2007

Gangorra


ele sentado
ela pra cima
ele pra baixo

Associação ou formas de verborragia.

Positivismo, degeneração, genocídio o inmigraciones blanqueadoras, o teorias del exterminio, darwinismo social, spencerismo, espiritualismo, estado-nação, patria, nación y estado, construcción imaginária de identidad, identidad nacional, liberalismo darwinista positivias, neo-liberalismo, neo conservadorismo, cultural rights, human rights, teoria da dependência, pos colonialismo, peronismo, getulismo, intergobernmental cultural cooperation, cooperação internacional, cooperación cultural internacional, cultural studies, mediación, corrupción, izquierda radical, zapatismo, fascismo, imperialismo, terrorismo, cultura do medo, cultura popular, cultura subalterna, cultura hegemônica, intelectual orgânico, hibridación cultural, asimilación cultural, pluralismo cultural, interculturalidad, multiculturalidad, auto reglamentación indígena, indigenismo, iberoamerica, panamerica, latino america, integración, asociación, asimilación, ayuda, ayuda internacional, ayuda internacional al desarrollo, desarrollo en saltos, progreso, no progreso, el contrario del progreso.

Ultimamente qualquer palavra que digo me leva ao vômito de cinco teorias e dezesseis distintos autores. O jogo de associação me parece agora sem graça, aquilo que era simples desencadeio de palavras interligadas se tornou polifonia teórica sem nexo das quais sempre tive horror e repulsa. Academicismo, teoricismo, mania de intelectualidade e pior, intelectualidade vomitada, assimilada e absorvida. Me falta o verbo construção.

Pra continuar aproveitando discursos alheios, segue o desabafo da minha perda em meio a esse vazio tão cheio de palavras.

"Que me perdoe se eu insisto nesse tema,
mas não sei fazer poema ou canção
que fale de outra coisa que não seja o amor.
Se o quadradismo dos meus versos,
vai de encontro aos intelectos,
que não usam o coração como expressão."

22 fevereiro 2007

Cálice

Vim pra escutar, não pela falta do que dizer, mas pelo excesso do que calar.
Calo não pelo medo do efeito, mas pelo receio das causas.
Calo tudo que vem dos meus lados escondidos.
Calo tudo.
Calo tudo que possa manter o que vem.
Calo tudo.
Calo tudo que...
Calo tudo.
Faço do silêncio minha revolta.
Faço do silêncio minha mudança.
Faço do silêncio minha voz.


"Afasta de mim esse cálice..."
Chico Buarque

Solidar.

Hoje li por vias de alguém uma definição de solidão que pelo tanto que me cabe me sinto compelida a repetir. Solidão não é falta de companhia, que isso é carência, não é a falta de quem está longe que isso é saudades. Só está aquele que perdeu a própria alma em algum lugar do caminho e assim segue pelo mundo vazio. Só é aquele que é só de si mesmo. Cansada de verso e prosa que estou, só posso dizer que concordo e estou traduzida nisso. Só é aquele que é só de si mesmo, que me deixei de fazer boa companhia faz tempo.

14 fevereiro 2007

Procura-se

Busco aquilo que perdi entre a chegada e saída de qualquer momento que não sei bem qual foi. Busco os princípios passivos, os valores desagregados e desaparecidos, busco os meus direitos não humanos e meus deveres não civis. Busco os olhos altivos abertos e negros, dias não sonolentos e ensolarados. Busco a dureza infantil, a vivencia dos pequenos e a alegria dos palhaços. Busco caber-me em metro e setenta. Busco meu negativo fotográfico, que me parece minha versão mais positiva. Busco o contrário do amor comum em sua maior afirmativa. Busco o contrário. Busco o contrário do amor. Busco sua maior afirmativa.


"...Longe se vai
Sonhando demais
Mas onde se chega assim?..."
Milton Nascimento

12 fevereiro 2007

Não estar

Queria hoje escrever de novo sobre saudades. Queria escrever sobre como estou não existindo, ou como queria não ser, ou qualquer crise existencial pequena e egoísta das muitas que já escrevi aqui. Não estou.
Escrevo sim da falta, de não estar, mas não da minha perspectiva. Eu não estive para alguéns nessa semana. Não havia o que fazer, nem para onde correr. Não havia melhor circunstancia, mudança de ato, nada que remediasse o meu não estar. A não ser que eu não estivesse aqui. Faltei a alguéns que são mais importantes que minha vida, que minhas horas, que meus sorrisos. Faltei a alguéns em um momento difícil, a morte, que mesmo a já aceita e concebida, é um momento difícil. E faltei a alguéns no provável momento mais feliz de sua vida, e não a vi entrar de branco com seus sorrisos e olhos enlagrimados.Faltei a alguéns involuntariamente e pior, contra minha vontade mental e física, faltei pela impossibilidade de estar. Não é culpa, nem auto flagelação mas eu não estive. Queria estar, busquei estar mentalmente, espiritualmente, ainda que a presença física me fosse impossível.
E senti falta de estar ao lado, segurando a onda, ou o buquê. Senti falta de estar com você te vendo de branco ou nos vendo de negro. Senti falta de amparar seus choros. Senti falta de ser o ombro. E senti mal por que sei que sentiram falta de mim. (sem presunções mas sei das amizades das quais se sentem falta).
Esse é um post pra que fique claro que me importo, que queriaestar e que não quero não estar, então por favor entendam, eu só estive de outra maneira.

10 fevereiro 2007

Desbaratinos

- Hoje comecei pela vigésima vez minha vida a campanha "pare de roer unhas". Definitivamente acho que a unha tem alguma substância altamente aditiva, pior que a nicotina, porque já vi uma série de amigos pararem de fumar, mas eu não paro de roer unhas. Ou me internem, é algum problema psicológico grave.

- Hoje um senhor me "reganhou" (acreditem se quiser é a palavra em espanhol para dar um esporro.... esporro, reganhar, não está tão longe rs...) porque o jornal que distribuo é de esquerda. Detalhe, eu nem sabia, mas fiquei feliz. Coisa de doido ficar feliz por ser "reganhado" não?

- Além do senhor ninguém mais foi visitar meu stand... fiquei três horas parada, em paz, rezando e repetindo orações enquanto fazia meus passarinhos de papel (origami). Talvez, as pessoas poucas que estavam na universidade num dia de chuva e sol me acharam extremamente maluca e não me visitaram por isso.

- Tenho andado pensando demais. Não faz bem. Reflito até sobre o jeito que vou dizer obrigado. Acho que estou ficando neurótica. Tão neurótica que já me preocupo com a neurose de me achar neurótica. Ou vocês não se deram conta que em todos os parágrafos eu, no final, conto que acho que estou ficando neurótica?

04 fevereiro 2007

Enodeada.

Tenho um nó no meio do estômago, na boca do estômago, na garganta. Estou feita em nós. Um em cada lado. Tão intruncados, tão cegos que não acho meu caminho de mim mesma entre tantos tropeços. Me pareço para mim mesma em oito, ou em oitenta, de uma forma tão confusa que não consigo encontrar a ponta do fio que os desata. E quanto mais busco, ou quanto mais passa o tempo, ganho mais nós sem desatar nenhum dos outros. Caibo hoje numa caixa de fósforo.

Está tudo tão em nós que nem o texto me corre sem tropeços e o texto me sai sem sentidos e o texto que costuma ser um desatador de nós me parece que hoje não terá utilidade.

desabafo inútil.

fim.

03 fevereiro 2007

Da arte de gostar de errar

Tenho andado entre odiar e amar o humano. De fato hoje creio mais que amo que odeio. Gosto do humano, de ser humano, literalmente.

Gosto das imperfeições, das falhas, das burrices. Gosto da teimosia, da fraqueza, da lucidez e da inconsciência. Gosto da coisa mais humana, que é a capacidade de errar. Definitivamente gosto dos meus erros. Gosto do jeito triste, doído, arrependido que fico depois de cada um deles. E gosto porque nesses momentos sou capaz de me comprometer comigo mesma. Gosto do jeito que acordo mudada depois de um erro, ou dois, ou três... Gosto do dia depois do erro. De ficar sentanda olhando pro nada revivendo cada momento para descobrir onde poderia ter sido diferente. Gosto de reinventar a mesma história cem vezes até que dela suma o tal erro. Gosto de esperar o tempo passar pra esquecer que aconteceu. Gosto das inúmeras tentativas inúteis de não cometer o mesmo erro duas vezes. Gosto. Gosto da minha humanidade. Da minha capacidade de ser medíocre, humana, gente.Gosto.

Ou será que estou tentando me convencer pra fazer o dia de hoje passar?

02 fevereiro 2007

Satyagraha

Terminei de ler "Desobediência Civil y otras propuestas" e tive algum tempo para refletir a leitura, que é recente, logo quaquer reflexão se torna um pouco pretenciosa, ainda assim, o assunto para mim não é assim tão novo e tenho me perturbado tanto com a leitura que deixo aqui meu desabafo.

Sem pretensão de correr o livro inteiro, devo dizer que os pensamentos de Thoureau te fazem questionar qualquer atitude diária. Não se submeter a um Estado e um estado com os quais você não concorda, resistir sem violentar, resistir por coerência aos seus princípios. E a continuidade ler reflexões sobre Gandhi, uma dele mesmo, uma do Mandella e outra doLuther King, só podem ser perturbadoras.

Gandhi dizia que a não violência é igual sim à buscar maneiras pacíficas de agir, o que não tem nada a ver com pacividade e por isso refutou o nome de resistência pacífica à sua prática. Satyagraha. É a palavra escolhida. Segundo ele mesmo, singifica "insistencia na verdade".É a combinação de satya (verdade) com ahimsa (amor). "Em sua essência nada mais é que a introdução da verdade e da delicadeza no político, ou seja, na vida nacional". Eu me contento por hora em tentar faze-lo na minha vida pessoal. Uma transformação de atitude que requer muita força interior, muita sensibilidade e muita força de vontade. Requer persistência, insistência e humildade. A humildade de estar ciente de que haverão mais falhas que conquistas nesse caminho.

Como indivíduo a prática do Satyagraha significa (palavras de Gandhi):
- O Satyagrahi, ou seja, o resistente civil, não albergará ira.
- Sofrerá a ira do oponente.
- Ao faze-lo suportorá os ataques do oponente, não contra atacará, mas tampouco se submeterá, nem por medo ao castigo ou o que seja, a qualquer ordem compartida com ira.
- Quando qualquer pessoa com autoridade procure prender a um resistente civil, este se submeterá voluntariamente à prisão, não se oporá a ser detido ou privado de coisas de sua propriedade, se haja alguma, quando sejam requeridas para confisco pelas autoridades.
- Se algum resistente civil tem como possessão coisas confiadas a ele, se negará a render-se, ainda que nessa defesa possa perder sua vida. Não obstante, jamais agirá em represália.
- Não agir em represália inclui não blasfemar ou maldizer.
- Em consequência, um resistente civil nunca insultará a seu oponente e agirá de forma que seja contra o ahimsa (amor).
- No curso da luta, se alguém insulta a um oficial ou comete um ataque físico contra ele o resistente civil protegerá a tal oficial do ataque ainda que arriscando sua própria vida.

Gandhi ainda dizia que o amor ao ser humano deve ser igual a todos os seres humanos e por isso abdicou de amar só a sua mulher ou de prevalecer de qualquer maneira sua mulher e filhos sobre outros seres humanos. Eu queria poder compreender esse nível de amor.

Mas naquilo que posso, me declaro a partir de hoje satygrahi ao mundo. E pretendo resistir como tal. Sabendo de minhas limitações. E me declaro em busca da prática do Satyagraha, "insistência na verdade" (vale ressaltar que para Gandhi Deus é a verdade), a mistura de verdade e amor. A resistência aos sentimentos contra o ahimsa, a prática da paz diária. Na busca de compreender o amor em um nível que eu acredito que a maior parte dos homens não conhecem. E não me declaro mais lúcida que qualquer homem comum, ignoro, creio, esse amor. Só me coloco a disposição de sua busca.

Ainda sobre o tempo

Meu computador voltou a casa e com ele voltam os posts. Devo dizer que desejo cortar meu novo vício (pelo menos em percepção que em hábito faz tempo), a internet. Senti falta do meu computador e tenho entrado em reflexões sobre o desapego...

Estou trabalhando temporariamente por aqui. O emprego menos pretencioso e menos trabalhoso e ainda, menos intelectual que já tive na vida. Entrego jornais em um stand na universidade. Técnicamente descrito por: chego as 3, abro o stand, coloco uma pilha de jornais sobre o stand, retiro o banquinho, fecho o stand. Coloco a lista dos alunos designados a receber o jornal sobre o stand. Sento no banquinho, começo a ler meu livro, ou o jornal, até que alguém venha buscar um jornal. Pergunto: Estas apuntado? normalmente a resposta é não. - Perdón, no puedo entregarlo ahora. Pero si vuelves a las 6 la sobra estará disponible. Gracias. Volto a ler. Ou, se a resposta é sim: Por favor digame tu apellido. Busco o nome na lista, marco, entrego o jornal, volto a ler. Às 6 devolvo o banquinho pra dentro do stand, coloco mais jornais sobre o mesmo e as sobras ao seu lado. Fecho o stand, vou embora.
Incrível a estranheza que me causa. Por dois aspectos, o primerio é que nunca imaginei que estaria ganhando para tão pouco. A maior estranheza porém está na maneira com que tenho sentido esse tempo muito bem aproveitado. E não, não é porque no fim do mês eu vou ter um respirinho pro pouco dinheiro que tem me mantido.
Primeiro, tenho tempo pra ler e não existe muito outra coisa que eu possa fazer. Que delícia ter essa obrigação pra passar o tempo, que ainda mais delícia fazer isso enquanto trabalho rs... Em três dias terminei o livro que estava pendurado a terminar.
Segunda e mais importante estranheza, eu, definitivamente, amo pessoas... Ontem conheci uma senhora que está na universidade no programa para a terceira idade do governo. Uma espanhola simpática (sim é raro), que sabia falar português e que tinha um amor estranho pelo Brasil, tendo ido só uma vez ao Rio de Janeiro e ficado no meio de um tiroteio... Acho que foram os melhores 10 ou 15 mintuos da semana. Hoje torci pra senhora Elizabeth voltar a buscar o jornal, mas ela não foi... tenho 2 meses pra reencontrá-la ainda.
Amo até as pessoas que são detestáveis sem nenhum pretexto. Esse é um trabalho que me obriga a dizer não e é incrível como as pessoas não sabem a reagir a um não, nem que seja tão bobo quanto: perdona, no puedo entregarte el periodico ahora si no estas apuntado. Vuelva a las 6 y te lo entrego. Uma senhora fez uma séria reclamação sobre a minha hipocrisia em entregar os jornais a quem não está designado depois das 6. Passou 5 minutos inteiros enervada dando me uma lição de moral fervorosa sobre a hipocrisia da política de entregas do jornal. E pela primeira vez eu, em cargo de nenhuma responsabilidade, tive o prazer de responder: senhora, compreendo sua aflição, te peço que por favor envie um email ao jornal com suas observações pra que elas possam ser atendidas.
Me apaixonei pela indigação da tal senhora, me diverti com tantos nervos para pouco e quase lhe dei o jornal de presente só por ter alegrado meu dia.
De qualquer maneira, tenho sentido essas 3 horas como tempo valioso da semana. Para ler, para entender de gentes e para entender de mim.

Desculpem a trivialidade do post, ando dada a trivialidades por motivos próprios de fugir das questões difíceis que tenho a responder.

16 janeiro 2007

Tempo

Por problemas com o computador fiquei algum tempo sem postar e pelos mesmos problemas, provavelmente, terei que ficar ainda mais tempo . Então estou aproveitando o tempo que me resta.
Aproveitar o tempo... tem sido uma de minhas questões. O que é de fato aproveitar o tempo? A minha resposta instantanea seria dizer que eu deveria estar cruzando Madrid de norte a sul, saindo todas as noites e todas essas coisas que se pensa quando alguém diz: vou morar fora do país.
Engraçado porque uma das coisas que mais tenho feito aqui é aprender a aproveitar o tempo e não tenho feito nada disso. A vida aqui é mais devagar, as pessoas dão passos lentos, as lojas fecham das 2 as 5 da tarde, os dias começam mais tarde.Há um prazer em andar pelas ruas, pela manhã e pela noite, de ficar sentado em uma praça qualquer. Estou apredendo a viver devagar, a aproveitar tempos para ficar tranquila, a respirar mais calmo. Um dos meus maiores prazeres tem sido ler no ônibus e no metrô, o que me faz perder, definitivamente, a vontade de ter um carro. Tenho andado mais e subido mais escadas e esses passos têm sido muito prazeirosos.
Outro prazer que descobri é arrumar minha casa nova (sim me mudo de novo no fim desse mês) e fazê-la mais com minha cara. Buscar maneiras criativas de decorar alguma coisa, produzir manualmente alguns artefatos. Os artesanatos (bem ou mal feitos) têm sido também uma forma de limpar a mente. Incrível como a atenção e o esforço das mãos requerido pelo artesanato te fazem limpar os pensamentos, para que eles voltem mais claros e ordenados depois.
Tenho meditado, pelas manhãs e pelas noites, tenho tido longas conversas com Deus, descobri o prazer de cozinhar com calma.
E é assim que tenho aproveitado meu tempo, para me sentir mais calma, mais tranquila e mais em paz. Quando o mundo deixa.

ps1:minhas leituras devem estar influenciando muito minha vida.
ps2:escrito ouvindo Ben Harper.

Desistência do mundo

O mundo tem me machucado. Tenho tido muito tempo para prestar atenção nas coisas do mundo, ou nas coisas dos homens. Sim porque o mundo não é nada que não coisa dos homens. Os homens têm me machucado. Alguns dirão que é essa sobra de tempo, outros demagogia, outros excesso de sensibilidade e falta de senso prático. Não me importo muito com as suposições alheias mas tenho buscado porquês para tal atenção e acho que é toda a mudança, que tem causado, com minha permissão, tranformações ainda maiores em mim.
Vejo de volta valores que sempre tive, mas que foram suprimidos pela vida de não tempo, pragmática e, de certa forma, alienante a que me acostumei a ter. Não culpo a vida, eu deixei. E é por isso que hoje deixo que as mudanças ocorram. É um dos sentidos e motivos de estar aqui. Os valores não sumiram, eu só fui vivendo-os de forma cada vez menor, tão menor que em algum momento me perdi.
Agora estão aqui e fazem com que o que vejo me doa. De verdade, e fundo, e forte. E de uma maneira tal que me provocam a reagir e eu em minha mania de segurança me vejo analisando e reanalisando possibilidades sobre o que fazer. A mais fácil não tenho dúvida de qual seja. Desisto do mundo e me volto a mim. Está fácil comprovar todos os porquês de a humanidade não valer a pena nem meia gota de suor de um esforço qualquer. E porque, afinal, tentar ajudar aquilo que te machuca? Aí me lembro das excessões e daqueles que mais sofrem as consequências do mundo que as produzem. E lembro que é por esses que o mundo vale a pena.
Depois me pergunto se o erro não é morfológico, e eu só tenho que mudar de palavras. Não tenho que ajudar o mundo, tenho que transformá-lo.

Está claro, desisto do mundo como ele é. Mas não desisto da idéia de que desistir das excessões é tão injusto quanto as injustiças que me machucam.

A pergunta deixa então de ser o que fazer e passa a ser como fazer.
A priori em toda e qualquer ação cotidiana, em toda e qualquer ação que seja ação de paz. A preocupação de ser instrumento de paz. O que requer atenção, concentração e esforço contínuo. Tem sido tema das minhas meditações e tenho tido bom intuito, sabendo da minha grande chance de fracassos ao meio do caminho. Não porque me julgue só incompetente nisso, e sou, mas porque fracassos são da natureza humana. A reação de raiva, a primeira que te passa, o ódio, o não pensar, são todas da natureza humana. A questão é então o treinamento e prática constante e a perseverança, após a reflexão sobre o fracasso.
Ainda assim, creio que seja possível transformar meu trabalho diário mantenedor em ação de transformação ou de resistencia. E aí me pergunto: estou aqui estudando, tranquila, desfrutando dos gozos de alguns anos de muito trabalho. Será que eu, que tenho todas as “condições favoráveis” deveria estar aqui, longe, estudando? Será que eu não deveria estar de pé em algum lugar fazendo alguma coisa contra aquilo que me dói? Será que eu não deveria desinstitucionalizar esse desejo? Aí penso no meu medo de instablidade e volto a crer que talvez essa grande mudança deva ser muito bem planejada. Ou não.
Por enquanto busco diferentes insituições às quais possa me agrupar e leio e estudo de tudo o que possa me aprimorar para tal ação. Acho muito pouco. E ainda estou em conflito com as questões práticas, ganhar o suficiente para comer e pagar o aluguel do apartamento. Quem tiver idéias, estão bem vindas.

03 janeiro 2007

Rapidinhas: a série da retrospectiva 2006

Parte 1:
2006 começou com a CPI dos Bingos e terminou com o enforcamento do Saddam.

No meio? PCC, guerra no Iraque, ataques no Rio, o governo Lula, Bush, o re-governo Lula, o re-governo Bush, dobradinha Alckmin Serra, Clodovil, Maluf, Frank Aguiar (valeu SP), os celulares na prisão (alô Marcola?), dossiê, mensalão, gasoduto Brasil-Bolívia, absolvição do Coronel comandante da chacina do Carandiru, irmãos Cravinhos e a Richtoffen no Fantástico...

Uma palavra pra essa rapidinha: Socorro!


Rapidinhas: a série da retrospectiva 2006

Parte 2:

Por falar em Fantástico, rapidinha no Brasil:
- Vilã do ano: Bia Falcão
- Catástrofe do ano: a arrumadinha na meia do Roberto Carlos e o gol do Henry
- Assunto do ano: o vídeo da Cicarelli
- Sensacionalismo mais ferrenho: o choque entre o Legacy e o avião da gol
- Diversão do ano: um tapinha na pantera no you tube
- E o coringão? perdeu pro River Plate, saiu da libertadores e quase cai pra segundona.
- Vingança do ano: não sei se o "silêncio sorridente" carioca pelo PCC, ou o "silêncio sorridente" Paulista pelos atuais ataques no Rio

Pior, não dá pra levar com bom humor, sofrendo com a Copa morreu o Bussunda.

O último que sair apague a luz do aeroporto, se conseguir tomar o vôo, é claro.


Uma palavra para essa rapidinha: Hein?

Rapidinhas: a série da retrospectiva 2006

Parte 3: Rapidinhas pessoais

Não dá para reclamar. Trabalho indo bem, Delfinópolis, Cidade Tiradentes, pós graduação terminada, meus avós morando pertinho de casa, amigos reencontrados, encontrados e continuados, pizzas feitas em casa. Buenos Aires e Recife. Vontade de mudar tudo, aprovação no mestrado, coragem para jogar tudo pro ar, demissão e férias prolongadas, vinda pra Madrid, começo de mestrado, busca de emprego, casa nova, amigos novos, saudades imensas.


Uma palavra para essa rapidinha? Obrigada!

Rapidinhas: a série da retrospectiva 2006

Parte 4 e final: Conclusão
Depois de um ano assim, eu não tenho mais dúvidas do por quê "uma palavra pra mim" tem sido perdida.
Eu perdida no mundo, o mundo perdido no mundo, as pessoas perdidas no mundo, o mundo perdido nas (ou pelas) pessoas, pessoas perdidas em si mesmas. Nesse ano acho que até Deus se perdeu (eu quase me perdi dele).
Sei que fui na contra mão do mundo. Sei que estou fazendo as minhas linhas tortas. Ainda assim, espero que em 2007 o mundo gire ao contrário.